OPINIÃO

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Reflexões em tempos de guerra

Por Luís Sousa

Foi frequente, durante os últimos dois anos de pandemia, equipararmos o momento que atravessávamos a uma espécie de guerra. Falávamos também numa “linha da frente” onde, juntos, fomos lutando contra um vírus que ceifou inúmeras vidas. Depois da pandemia, tudo o que o mundo dispensava era uma guerra. E esta toca-nos profunda e especialmente.

Seja porque não encontramos motivos (como se a guerra tivesse razões legítimas para acontecer!). Seja porque tem como palco a Europa, onde vivemos e crescemos habituados à ideia de que as guerras tinham ficado nos livros de História.

De facto, desta vez, tudo acontece aqui bem perto. Paira no ar a ameaça de uma terceira guerra mundial, esta, com potencial para evoluir para uma guerra nuclear, devastadora. Além disso, afeta, de forma tremendamente injusta, o povo ucraniano, cujo vínculo a Portugal se tem cimentado ao longo das últimas décadas pela grande comunidade de imigrantes que acolhemos e que se tornaram também, portugueses.

Todos temos conhecidos e amigos ucranianos que fazem parte desta comunidade, gente trabalhadora que vive em Portugal e que tem familiares na Ucrânia que estão, neste momento, a sofrer as consequências de uma guerra, vivendo em refúgios subterrâneos, atormentados pelo barulho das explosões que devastam, à superfície, sem piedade, o território ucraniano.

A Ucrânia é um país democrático que está a sofrer as consequências de querer ocidentalizar-se, aderindo à NATO e à União Europeia, direitos e intenções que lhe assistem por ser um país soberano que Putin quer manter sob as suas amarras. Putin tem intenções imperialistas, encarna um espírito belicista, frio, calculista, impiedoso.

Nasceu na época dourada da União Soviética, nos tempos da Guerra Fria, vivenciou o seu poderio militar e conheceu os êxitos da corrida espacial como o Sputnik, o primeiro satélite artificial da Terra, ou de Yuri Gagarin, o primeiro homem no espaço. A nostalgia que manifesta pelo poderio da antiga União Soviética é evidente e ficou demonstrada em afirmações suas como a de que o colapso da URSS tinha sido uma “catástrofe geopolítica”.

Por querer aderir à NATO, o povo da Ucrânia sofre as agruras de uma guerra e tem civis, sem qualquer formação militar, a combater pela sua soberania. Que corajoso é este povo! Que heróis! Mas por cá, há partidos como o Bloco de Esquerda que rejeitam a participação de Portugal na NATO (pág. 212 e 217 do programa do BE).

Também o PCP tem tido um discurso dúbio que incorpora uma visão de esquerda ultrapassada, voltada para o passado, que vive a mesma nostalgia de Putin pela antiga União Soviética. O PCP pertence à mesma esquerda que admira ditadores como Estaline ou Fidel Castro ou que convida ativistas das FARC para a festa do Avante. Com base nos mesmos argumentos de sempre, o PCP quer um Portugal voltado de costas para a Europa (pág. 6 do programa eleitoral). A mesma Europa à qual a Ucrânia luta por pertencer.

Carlos Guimarães Pinto escreveu recentemente, que “com a recente invasão da Ucrânia, será útil rever quem na Europa apoiou ou desculpou as ações de Putin ao longo dos anos.” E que o “melhor indicador do risco de partidos que nunca exerceram o poder é perceber quem escolhem apoiar entre aqueles que realmente o exercem. São um indicador da forma como exerceriam o poder se o tivessem”. Que tudo isto sirva para abrir os olhos de muita gente!

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