Um atleta ucraniano de 73 anos apanhou esta quinta-feira ‘boleia’ de um autocarro humanitário que partiu de Braga em direcção à Polónia, para ir combater ao lado do filho e defender o seu país da invasão russa.
“Quero ir à luta, juntar-me ao meu filho e defender a minha pátria”, diz Chernyatevych Voludymyr, com a voz embargada pela emoção e os olhos em lágrimas.
Com ele, seguiram também no autocarro mais cinco atletas que participaram num campeonato europeu de atletismo de veteranos, que se realizou em Braga.
Todos manifestaram a mesma intenção de Chernyatevych Voludymyr: ir à luta e defender o seu país.
“Querem voltar para lutar”, explica Andriy Voytuckh, o tradutor de serviço.
Carregado de alimentos, agasalhos e medicamentos, o autocarro humanitário que partiu de Braga vai a Wroclaw, na Polónia, onde recolherá 40 refugiados ucranianos para os trazer para Portugal.
Segundo Carla Sepúlveda, vereadora da Acção Social na Câmara de Braga, em causa estão 12 crianças e 38 adultos, na sua esmagadora maioria mulheres, uma das quais grávida de 20 semanas.
“Já temos o alojamento identificado”, assegura a autarca, sublinhando que, em muitos casos, foram famílias que se prontificaram para receber os refugiados nas suas casas ou disponibilizaram as suas segundas habitações.
Das 40 pessoas que vão ser recolhidas, a maior parte já tem “retaguarda familiar” em Braga, cidade onde vivem cerca de 800 ucranianos.
No autocarro seguiram também uma médica portuguesa, uma enfermeira ucraniana e um elemento da Protecção Civil, além do tradutor e de Romana Meireles, a “principal responsável” por esta missão humanitária.
“Tinha pensado reunir o maior número de amigos possível e irmos nos nossos carros levar ajuda a quem precisa e buscar famílias, mas, entretanto, surgiu esta solução do autocarro e penso que, assim, a missão tem outro tipo de condições”, explicou Romana Meireles.
Uma missão a que se associou, de imediato, a médica Elisa Condês, de 27 anos, que “embarcou no desafio sem hesitar”.
“Levamos medicamentos para a dor e para eventuais infecções respiratórias, já que na Europa Central está muito frio. Mas levamos também, e principalmente, conforto e uma palavra amiga às pessoas”, atira.
Pela frente está uma viagem de 2.850 quilómetros, que deverá demorar entre 36 e 40 horas.
António Veiga, um dos quatro motoristas destacados, sintetiza o estado de espírito de quem vai assumir “o leme” do autocarro: “Enche-nos a alma podermos participar numa missão destas”.
A partida do autocarro foi assinalada com uma salva de palmas e com votos, quase em surdina, de uma solução rápida para o conflito.
“O que eu mais queria era que este autocarro, no regresso, trouxesse paz”, atirou um ucraniano, vestido com as cores da bandeira do seu país.
Com MadreMedia