O secretário-geral do PCP diz que “há dinheiro e não é pouco” para a saúde, lembrando que este sector terá “55% do Orçamento do Estado” para 2023, mas que vai “para os grupos económicos do negócio da doença”. Paulo Raimundo, que participava na Ceia de Natal dos comunistas em Braga, insistiu no controlo de preços de bens alimentares, para o IVA a 6% na electricidade, no gás e em todos os alimentos.
“Não há dinheiro? Há e não é pouco. Se há 55% do Orçamento do Estado destinado à Saúde que está desde já encaminhado para os grupos económicos do negócio da doença, como é que não há dinheiro?”, questionou Paulo Raimundo, quando discursava em Braga, no jantar de fim de ano, perante cerca de três centenas de apoiantes.
O secretário-geral dos comunistas afirmou que “não vale a pena andarem a derramar lágrimas de crocodilo”, salientando que “o que é preciso e urgente, é a valorização dos profissionais de saúde”.
“Com direitos, carreira, formação, reconhecimento e respeito. Criar condições também materiais para a sua dedicação exclusiva à causa pública do Serviço Nacional de Saúde. É por aqui que temos de ir, garantir médico de família a mais de um milhão de pessoas que ainda não o têm, estancar a sangria de recursos humanos e técnicos do Serviço Nacional de Saúde para a saúde privada”, defendeu Paulo Raimundo.
O líder comunista frisou que na saúde “todos os dias há problemas, novos ataques e justificações para novos golpes”, dando o exemplo do que se passa no distrito de Braga neste sector.
“Aqui [distrito de Braga] estamos confrontados com a ameaça de encerramento da maternidade de Famalicão, com a necessidade de novas instalações para o Hospital de Barcelos, centros de saúde fechados, como é o caso de Belinho, em Esposende, ou o urgente reforço de meios e ampliação das instalações do Hospital de Braga”, descreveu Paulo Raimundo.
CONTROLO DOS PREÇOS
Outro dos pontos abordado pelo dirigente comunista no seu discurso foi “o facto” de os portugueses pagarem e os lucros aumentarem.
“E o que fazer perante o facto: nós a pagar e os lucros a aumentar. 18,4 % de inflação nos bens alimentares, acrescente-se as margens de lucros sempre a crescer e veja-se o resultado final, preço do cabaz alimentar com uma subida extraordinária e os lucros da distribuição como há muito não se viam; podíamos estender a afirmação à luz, ao gás, à habitação, e por aí fora”, destacou o secretário-geral do PCP.
Nesse sentido, Paulo Raimundo defendeu “que se avance para o controlo de preços de bens alimentares, para o IVA a 6% na electricidade, no gás e em todos os alimentos e IVA a 13% nas telecomunicações”.
“É ou não justo que o aumento do custo de vida não pese tanto sobre quem menos tem e quem vive do trabalho? Não é só justo como é urgente”, sustentou o líder comunista.
Paulo Raimundo defendeu também a aplicação de uma taxa de 35% a empresas de vários sectores.
“E nós a trabalhar, a sermos empurrados para a pobreza e um punhado a encher-se como se não houvesse amanhã. É justo? Para cada um de nós os sacrifícios, enquanto uns poucos se abotoam e aproveitam isto tudo. E taxar os lucros dos grupos económicos, na energia, na distribuição, mas também na banca e nos seguros, com uma taxa de 35%? Isso sim era de valor, isso sim permitia dar combate à gritante desigualdade que vivemos”, defendeu o secretário-geral do PCP.
O líder comunista afirmou ainda que “há mais de dois milhões de pessoas em situação de pobreza, 388 mil das quais crianças e 700 mil trabalham todos os dias e mesmo assim não conseguem sair dessa situação”.
“O que é isto? É isto uma sociedade moderna e avançada? É que dois milhões correspondem a mais de 20% da sociedade, 388 mil crianças são uma em cada quatro, 700 mil trabalhadores são perto de 18% de todos os trabalhadores, é este o presente e o futuro que têm para nos oferecer? Aumentem-se os salários, as reformas, as pensões e os apoios sociais. Fixe-se o salário mínimo em 850 euros, aumentem-se as pensões em 8% no mínimo de 50 euros, acabe-se com as injustiças e as desigualdades. Isto sim são opções de futuro”, vincou Raimundo.