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Fátima, sempre foi, já é e será sempre mais (70). A Imagem de Nossa Senhora de Fátima novamente a caminho de Lisboa

O cardeal de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira numa das suas celebrações, no Palácio Patriarcal, pensou, como que inspirado pela força Divinal, na viagem de Nossa Senhora de Fátima a Lisboa, em abril de 1942, fazendo a si próprio a seguinte interrogação: «Porque não a trazer de novo, agora neste centenário, numa procissão de penitência, para ali receber homenagens ainda mais ardentes e mais sentidas?» Estávamos em 1946, terceiro centenário (1646) da aclamação de Maria, como Rainha de Portugal e a verdadeira soberana do país, por D. João IV, sendo, ainda, o ano (13 de Maio) em que a Imagem da Senhora de Fátima tinha recebido a coroa de ouro e de pedras preciosas do coração grato das mulheres portuguesas que, com a sua fé e gratidão, doaram parte das suas joias à sua Mãe Protetora.

Além disso, tinha terminado, há pouco mais de um ano, a guerra mundial de que Portugal se livrou e que a grande maioria do povo de Santa Maria atribuiu essa graça à intercessão da Virgem Padroeira. Diz-se que uma religiosa portuguesa, com dotes de santidade, em 14 de julho de 1940, “ao ver em celestial êxtase a Santíssima Virgem pediu-lhe que valesse a Portugal e ouviu estas palavras da boca da Mãe de Deus”: «Oh! Sim. Esta nação tão querida do Meu Coração Imaculado!» Faleceu, precisamente, dois dias depois do armistício, 10 de maio de 1945.

Terminada a Santa Missa, o Cardeal Patriarca escreveu ao Bispo de Leiria, Dom José Alves Correia da Silva, informando-o desse “inspirado projeto” que o prelado acolheu logo com muita alegria.

A notícia foi logo difundida por todo o Portugal através da comunicação social e pela própria hierarquia da Igreja, sendo acolhida com júbilo e grande devoção e no dia 22 de novembro de 1946, logo ao raiar da aurora, Fátima recebia, nos seus espaços sagrados, uma massa enorme de fiéis que quis assistir à segunda saída da Imagem de Nossa Senhora de Fátima em direção a Lisboa.

A romagem de piedade e de penitência inicia-se, às 9 horas, após ser celebrada missa por Dom José Alves Correia da Silva, o Bispo de entrega às causas de Fátima, à qual também assistiram os Governadores Civis de Santarém e de Leiria, Presidente da Câmara de Vila Nova de Ourém, alguns vereadores e outras autoridades que, nesse momento, aceitavam e acreditavam, ao contrário dos seus antepassados, nos prodígios acontecidos na Cova da Iria, abeirando-se, quase todos, da Sagrada Comunhão.

  O percurso de, pelo menos, 500 Km foi feito todo a pé, sendo o andor, com várias centenas de quilos de peso, levado aos ombros de homens piedosos que, voluntariamente, se abeiravam para tal sacrifício, pisando caminhos enlameados pela chuva intensa que os acompanhou durante parte do trajeto, incluindo visitas às variadas localidades das redondezas, sempre com aquele “mar de gente” a cantar, a rezar e com lágrimas a escorrerem pelo rosto.

Só em terras do Lis até ao limite do Patriarcado, em Alcobaça, a romagem durou três dias, passando por Reguengo do Fetal, Cortes, Leiria, Batalha, Porto de Mós e Aljubarrota. A chuva caía sem parar, os caminhos estavam encharcados com água e lama, mas, mesmo assim, a força e o ânimo das gentes não se desvaneciam em todas as localidades por onde o cortejo passava. Só em Leiria foi calculada uma multidão de 10.000 fiéis. No geral, o número dificilmente baixou dos 2500 aos 3000 devotos de Nossa Senhora de Fátima que não olhavam às dificuldades climatéricas para acompanhar o Seu andor. Crianças da catequese, das escolas que suspendiam as atividades para que os alunos pudessem ver a passagem do cortejo, pessoas já com os pés ensanguentados, mas não desistiam de acompanhar aquele enorme ambiente de fé e de amor à Mãe de Deus. As vigílias havidas na Catedral de Leiria, na Batalha e em Porto de Mós provaram, de igual modo, o quanto o povo português ama a Virgem Santíssima.

No dia 24 de novembro, dois cónegos e dois sacerdotes de Leiria transportaram, aos seus ombros, o andor até ao espaço do patriarcado de Lisboa, onde estavam à espera, além de milhares de pessoas, o seu Bispo Auxiliar, Dom João dos Campos Neves, e outras autoridades de Alcobaça. O Cónego José Galamba de Oliveira, contemporâneo e historiador das Aparições de Fátima, acompanhou a Imagem desde a Cova da Iria até Alcobaça, em representação do Bispo de Leiria.

Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos, historiador de arte e diretor do Museu Machado de Castro, Coimbra…

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