Texto de Clara Ferreira, estagiária de Serviço Social da Universidade Católica
Existe sempre algo de encantador no ato de criar. Seja uma melodia que é reproduzida, uma pincelada que dá vida ao papel ou uma dança que surge no corpo de quem a interpreta. E, quando essa magia é partilhada com crianças e jovens, o impacto torna-se ainda mais forte e transformador.
Vivemos num mundo em que o quotidiano das crianças e jovens é, muitas vezes, moldado por rotinas apertadas, obrigações escolares e pressões sociais. No meio desta “tempestade”, a arte surge como um espaço seguro onde não existem respostas certas ou erradas, apenas a liberdade de expressar o que as palavras nem sempre conseguem transmitir. Numa aula de música, é possível libertar as emoções através do som; num ateliê de pintura, pode-se transformar os medos em cores vibrantes; e num palco, um grupo pode descobrir a força da coletividade.
A intervenção através da arte tem um impacto que vai além do desenvolvimento ou domínio das habilidades artísticas. Pode ser um processo de autoconhecimento e, muitas vezes, de reintegração. Há estudos que comprovam que programas de intervenção artística em escolas ou em centros de acolhimento originam melhorias significativas no bem-estar emocional, nas relações entre si e no rendimento escolar.
A arte não resolve as desigualdades e as adversidades sociais, mas abre uma porta para que as crianças e os jovens consigam atribuir significados às suas experiências e acreditem nas suas potencialidades. Numa realidade onde muitas vezes se sentem sem voz, a arte dá-lhes um megafone.
Há um provérbio africano que diz: “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Considero que, para a maioria, a arte seja essa aldeia, um território coletivo onde cada pincelada, cada nota musical ou cada movimento de dança auxilie a construir uma geração mais consciente, conectada e humana.
E, no fundo, é disso que se trata. A arte, para além de todas as suas características diferenciadas, é uma linguagem universal que nos possibilita sentir, comunicar e transformar.
