Alerta a sabedoria popular (e confirma a tradição municipal) que “o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita” e esta máxima podia até ser o título para as desventuras do município no IEMinho.
Tudo começou torto, desde logo porque o Executivo Municipal negligenciou os interesses do município transferindo para o IEMinho, de modo gracioso, a propriedade do imóvel e fê-lo sem condicionar aquela transferência a qualquer tipo de condições ou obrigações por parte daquela Associação. O Executivo podia e devia ter acautelado melhor o seu património e, ao invés de dar, devia ter apenas arrendado ou até cedido gratuita e temporariamente o imóvel (como fez noutros casos), o que evitaria os tremendos prejuízos que sofremos.
E tudo continuou torto depois de iniciada a aventura, com o Executivo Municipal a desprezar continuamente o interesse público:
– nunca se preocupou em ocupar uma posição de liderança na gestão, preferindo colocar representantes municipais que, ao fim de vários anos não viram nada, não nem ouviram nada;
– nada fez quando as suspeitas de saque ao fundos comunitários limitaram a ação daquela Associação;
– nada fez quando a bancarrota era iminente, deixando o problema engordar;
– nada fez para acautelar o elementar dever do município de fiscalizar o licenciamento, o que evitaria o constrangimento de ainda hoje o edifício, inaugurado há vários anos com pompa e circunstância pelo Município, não ter sequer licença e figurar ainda no registo como o lote para construção com uma avaliação tributária (de cerca de 200.000 euros) muito inferior à real, o que gerou, naturalmente, quebra de receita no IMI.
E assim, de asneira em asneira, chegamos alegremente à insolvência daquela Associação sem que se tenham encontrado culpados para tamanhas dívidas e para tantas suspeitas de crimes que geraram uma mega acusação pública…
E perante tudo isto o executivo revelou-se sempre incapaz de fazer qualquer acto de contrição e apressa-se agora para uma “segunda demão” de asneiras.
O município – talvez por complexo de culpa ou numa tentativa de esconder o problema – procura agora comprar o que deveria ser seu por direito. Para o efeito, prepara uma proposta de 850 mil euros. E fá-lo sem promover uma ampla discussão sobre o assunto deixando no ar dúvidas e inquietações que reclamam esclarecimentos.
Senão vejamos:
Comprar para quê, para que fins? Ao que parece o município pretende manter o mesmo modelo de incubação; ora esse foi o modelo que gerou a insolvência e, segundo o próprio administrador de insolvência, é um modelo economicamente inviável!
Quem vai administrar? O município não sabe ainda qual o modelo de administração mas parece preferir um modelo privado que, tal como no passado, gerou problemas e prejuízos em muitos negócios municipais, como foi o caso da Pró-Vila Verde e o próprio AIMinho!
Quais os estudos feitos pelo município que recomendam a aquisição?
Quais os resultados obtidos com a aposta na incubação ao longo dentes anos?
Quantos projetos prevê acolher?
Não seria recomendável e mais vantajoso utilizar o espaço para atrair a Universidade do Minho ou outra instituição do ensino superior, o que poderia criar emprego e dinamização económica ?
Um município como o de Vila Verde, com recursos económicos limitadíssimos, não pode ser gerido como se os seus cofres fossem uma fonte inesgotável. Sobretudo quando continuamos a ser um dos concelhos com piores registos de abastecimento de água e de saneamento e com tantas deficiências na rede viária.
Investimentos desta grandeza, que comprometem o futuro, têm de ser precedidos de discussão séria e alargada e não podem continuar a ser decididos nas costas dos Vilaverdenses, à pressa e às escondidas…