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Isto só vai com antibiótico

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Na prática clínica deparo-me, muitas vezes, com este comentário por parte de doentes que, perante sintomas de foro respiratório, veem no antibiótico a sua tábua de salvação ou de cura. Ora porque a tosse é muito semelhante com outra que em tempos só se resolveu com o uso de um antibiótico ou porque o vizinho ou o colega de trabalho teve uma situação igual que também só encontrou a cura após a toma do antibiótico.

Estas situações são compreensíveis pois traduzem aquilo que é a perceção legítima dos utentes. Porém, compete-nos, enquanto profissionais de saúde, explicar que nem tudo o que é infeção se resolve com a prescrição de antibióticos. Tivemos, nos últimos anos, o exemplo da COVID-19 que, sendo causada por um vírus, nunca se colocou a hipótese de ser tratada com qualquer um dos antibióticos existentes no mercado. Sabemos que os antibióticos são prescritos para o tratamento de doenças causadas por bactérias e não por vírus, por isso, não são prescritos em situações de COVID-19, gripe ou outras infeções comuns causadas por outros vírus como o VSR ou o adenovírus.

Há muitos antibióticos no mercado, alguns disponíveis nas farmácias comunitárias, outros apenas de uso em meio hospitalar e, portanto, com uma utilização mais restrita. Acontece, por vezes, que os antibióticos são dispensados ou vendidos sem prescrição médica o que leva muitos doentes a tomarem antibióticos de forma desnecessária, particularmente em situações como viroses que, do ponto de vista de sintomas, podem ser facilmente confundidas com doenças provocadas por bactérias. Daí que seja importante que os doentes sejam avaliados por um médico antes de tomarem um antibiótico, promovendo uma utilização responsável e racional do seu uso, sob pena de se contribuir para o aumento das resistências aos antibióticos. Esta resistência acontece quando as bactérias encontram mecanismos para neutralizar o efeito do antibiótico, continuando a multiplicar-se mesmo quando expostas a concentrações terapêuticas do fármaco. O problema das resistências aos antibióticos são o resultado da utilização excessiva de antibióticos que acontece, não só, devido aos nossos hábitos terapêuticos na saúde humana mas, também, ultrapassa o foro médico pois, como sabemos, utilizam-se antibióticos noutras indústrias como a alimentar, na pecuária, na medicina veterinária, entre outras atividades, o que contribuiu para o aumento das resistências antimicrobianas quando utilizados de forma leviana e pouco responsável.

Neste período de inverno e, sobretudo, após dois anos de pandemia em que o uso de máscara e o isolamento social nos privou do contacto com muitos vírus comuns, vivemos um período de grande prevalência de infeções respiratórias, na sua grande maioria causadas por vírus e, numa pequena parte, provocadas por bactérias. Significa portanto, que a maioria dos casos vai dispensar o uso de antibióticos, carecendo, apenas, de um tratamento sintomático, de forma a aliviar sintomas e facilitar a recuperação.

A Organização Mundial da Saúde considera que o aumento das resistências aos antibióticos é um problema de saúde pública. Em Portugal, o consumo global de antibacterianos mantém-se elevado, apesar de estar ligeiramente abaixo da média europeia. Como profissional de saúde, compreendo a perceção de muitos utentes que veem no antibiótico o seu único meio de salvação ou de cura. Mas nem sempre é necessário. Por isso, antes de tomar um antibiótico, aconselhe-se com o seu médico.

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