Texto de Luís Sousa
Temos assistido, nos últimos anos, a uma constante degradação do nível do debate político, seja na comunicação social, seja também no plano institucional, nomeadamente na Assembleia da República, que consideramos a casa-mãe da Democracia.
O nível tem ficado tão aquém daquilo que é expectável que, nas últimas semanas, surgiu a necessidade de trazer ao cerne do debate público eventuais sanções aos deputados que ultrapassem os limites da decência e da boa educação que deve imperar dentro do hemiciclo.
Lembro-me que, no meu tempo de escola, passávamos os primeiros dias do ano letivo a discutir as regras dentro da sala de aula. Consistia numa partilha de ideias por parte de todos os alunos sobre os direitos e os deveres de cada um de nós dentro do espaço escolar. Era, então, um modo pedagógico de estimular autorreflexão dos alunos sobre como se devem comportar na escola. Diria que é normal este ser um tema premente a debater nas salas de aula da escola primária, em contraponto do mesmo ser o tema do debate público quando falamos da casa da democracia e do comportamento que deve nortear a conduta dos deputados. É, pelo menos, muito mau sinal que assim seja necessário.
A verdade é que temos visto na Assembleia da República cada vez mais ataques ad hominem. Aplaudem-se o insulto e o enxovalho, como se de um golo se tratassem, numa espécie de jogo em que ganha quem gritar mais alto. E o debate, às vezes, não acaba ali, tendo minutos de compensação nas redes sociais com o insulto a ser multiplicado sob a forma de gostos e comentários onde o ódio é a palavra de ordem para com quem pensa diferente. Que triste é vermos o debate de ideias ser substituído pela troca de galhardetes. Que tristeza ver o debate político ser cenário deste ambiente de guerrilha que nos aproxima mais depressa da idade média do que do século XXI.
Há dias, um deputado lembrava que muitos debates na Assembleia da República contam com a presença de alunos de várias idades. O que poderá dizer um professor que leva os seus alunos a visitarem a Assembleia da República para depois assistirem a tão tristes espetáculos?
A degradação tem sido notória a cada legislatura. E, assim, se contribui para degradar a má imagem que os portugueses já têm dos políticos e da atividade política. Os deputados eleitos não podem comportar-se na Assembleia como se estivessem na esplanada do café. Bem sei que os deputados que se comportam desta forma são uma minoria no hemiciclo e muitos deles pertencem à ruidosa bancada do Chega. Mas, cada vez que esta minoria parte para o insulto como se estivesse numa qualquer esplanada, desrespeitando-se e injuriando-se, diminuímos e maltratamos a democracia.
Esta degradação não é só em Portugal. Ainda há dias vi o Presidente dos Estados Unidos insultar o antecessor chamando-lhe de presidente estúpido. Que degradante! Winston Churchill dizia que “a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros”. Mas preservá-la, implica exercermos uma liberdade que respeite os limites da decência e do decoro.