Todas estas minhas narrativas sobre a devoção, ao longo dos tempos, das gentes portuguesas a Nossa Senhora mostram bem o encanto, o carinho e a fé que sempre houve pela nossa Mãe, a Virgem Santíssima, procurando partilhar tudo o que vou lendo no tesouro literário (e noutras fontes!) que ilustres mestres do saber quiseram retratar, minuciosamente, todos os grandes mistérios de Nossa Senhora desde a Anunciação até aos acontecimentos de Fátima. Continuarei a dar a conhecer a sempre forte união espiritual do nosso Portugal e de outros povos do mundo à sua Rainha e Mãe com significativos relatos de acontecimentos que nos ajudam a interiorizar, não esquecendo tantas demonstrações de fé e tantas revelações de carinho que Nossa Senhora sempre teve e terá pelo Seu povo.
Retomando o relato da segunda visita da Imagem de Nossa Senhora de Fátima a Lisboa e a outras localidades do nosso país é grandioso sabermos que, mais uma vez, a nossa capital se “vestiu de gala” para receber o Ícone da fé que entrou em solene cortejo no dia 5 de dezembro de 1946. Um grupo de estudantes universitários, logo ao amanhecer, caminhou, alegremente, a pé até Loures para trazer, aos seus ombros, o andor à sua cidade, dando entrada, pela estrada do Lumiar, às 16h e 15m, mas, muito antes, os sinos de todas as igrejas repicavam, convocando todas as Irmandades e outras associações religiosas para acompanharem os seus párocos, em procissão, em direção ao Campo Grande.
Gentes de todas as classes sociais, autoridades civis e militares aguardavam, sobretudo desde a porta da Igreja de Nossa Senhora de Fátima até ao Campo Grande e por outros locais circunvizinhos, com o brilho nos olhos, a chegada da Imagem Peregrina da “Celestial Rainha”.
Em representação do Presidente da Câmara e do Município de Lisboa, quatro vereadores simbolizam, com a deposição de lindos ramos de rosas brancas aos pés da Imagem, o afeto, a fé e o amor do povo lisbonense por Nossa Senhora, enquanto que a Imagem, adornada com a beleza das flores e do mistério das pombas acoitadas aos Seus pés, seguia por entre multidões cheias de confiança e com a sua alma enobrecida.
No átrio da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, além do mar de gente que cantava, rezava, encontrava-se, comovido de uma alegria insondável, o Bispo de Leiria. O andor da Virgem foi, inicialmente, colocado em frente à Igreja para que todos pudessem viver melhor aqueles momentos de crença e de tanta ternura pela Mãe do Céu representada naquela figura tão encantadora.
Em determinada altura, o Cardeal Patriarca dirige-se àquela extraordinária assembleia do Povo de Deus, proferindo “uma alocução vibrante e fervorosa” da qual cito algumas passagens: «Acaba de chegar, pela segunda vez, “à capital do império” a Imagem de Nossa Senhora de Fátima. Veio até aqui coberta de flores, aclamada com cânticos, saudada com as invocações mais carinhosas, implorada com lágrimas, servida com sacrifício e venerada com amor. Por onde passou, tapetaram-se as estradas, embandeiraram as populações, iluminaram-se as casas, encheram-se as igrejas, repicavam os sinos. Só para A ver e saudar, despovoaram-se os campos, embargaram-se as estradas, embelezavam-se as vilas; toda a gente acorreu, crianças, adultos e velhos, a rezar, a cantar e a chorar, sem que o pudesse impedir, nem o frio, nem o vento, nem a chuva, nem a distância…
Em certo lugar, atravessando a estrada, lia-se esta legenda: “as nossas lágrimas, Senhora, dizem-Vos a nossa alegria de Vos ver.” É bem certo, o melhor para dizer é o que não se pode dizer…
Entrai, Senhora, nesta igreja, mas entrai sobretudo nos nossos corações. Entrai neles com a Vossa graça, a Vossa misericórdia, a Vossa compaixão, a Vossa ternura maternal. Vinde com o Vosso divino Filho. Deixai-no-lo contemplar no Vosso próprio coração… Entrai, Senhora, e ficai connosco…»
Várias vigílias se fizeram na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, venerando a Virgem. Numa missa celebrada no dia 6 de dezembro assistiram os doentes, médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar e administrativo do Hospital do Rego. No dia 7, reuniram-se à volta de Nossa Senhora 3000 crianças vindas das várias paróquias de Lisboa, fazendo a sua consagração à Rainha do Céu…
Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos, historiador de arte e diretor do Museu Machado de Castro, Coimbra…