Um evento com mais de setecentos anos de história, onde até as raízes dos velhos sobreiros, localizados no largo de São Sebastião, sabem contar a tradição ali enraizada dos burros que, em tempos passados, deram nome à feira.
A actual Feira dos Vinte, vinda do reinado de D. Dinis, começou por se chamar Feira das Trocas e Feira dos Burros.
Ora, como nada acontece por a acaso, vamos contar o que se diz na localidade de Prado Santa Maria acerca deste assunto.
Os grandes negociantes de gado do país, para não perderem “pitada” daquele acontecimento anual, chegavam ali com alguma antecedência.
Após um percurso longo, muitas das vezes efectuado a pé e por caminhos em terra batida, escolhiam as melhores estalagens e as mais afamadas casas de pasto para “apertarem o pulso“ à gastronomia local.
Para além do descanso, queriam ser bem servidos à mesa, onde, sobre toalhas de linho bordadas, as papas, os rojões, as chouriças do fumeiro, uns nacos de pão e, claro está, o melhor vinho verde da região não podiam faltar.
Assim nasceu a “Noite das Provas”, uma tradição ainda hoje realizada do dia de véspera da Feira dos Vinte.
Esses negociantes, alguns deles donos de quintas, de campos, e de várias cabeças de gado (para a altura, gente abastada), dita a história que mal chegavam a Prado, tinham o cuidado de reservarem um sobreiro para, no dia 20, prenderem os burros (era dos poucos dias que os animais deixavam de ir pastar para a “Veiga”.
Com o passar dos anos, populares começaram a usar aquele procedimento para fazer galhofa com a situação, usando dizer ainda hoje, uns para os outros, em jeito de reinação, “já marquei um sobreiro para ti”.
Dado o termo ser usado no masculino, algumas crianças do passado contam que, quando se aproximava o acontecimentos, estranhavam ouvir a mãe dizer que iam à feira (das trocas) trocar o burro, quando em casa não havia qualquer animal.
Mais tarde (e nada como o tempo para nos abrir os olhos)acabavam por perceber que o trocadilho das mulheres era dedica aos maridos.
A secular Feira dos Vinte, onde actualmente predomina o gado bovino, tem muitas histórias para contar, algumas delas (das mais engraçadas) tem os burros como personagens principais.
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Por Emílio Costa (CO 1179)
