Quem viaja na estrada para Barcelos, encontra, mesmo á face da via, junto à Igreja matriz de Prado, a Casa Lobo, uma loja de comércio local com tasco e uma pequena mercearia.
A história deste espaço de comércio mistura-se no tempo e leva-nos a recuar cerca de 100 anos. Hoje, o vinho, principalmente o verde, e os petiscos são o seu principal chamariz.
Na parte reservada à mercearia, “vende-se para desenrasque”.
O jornal “O Vilaverdense” foi descobrir segredos e abre as portas a este espaço único de tradição.
De caixeiro-viajante a patrão
O pradense António Lobo de Macedo era caixeiro-viajante. Quando casou, com Albertina Soares, decidiu estabelecer-se e abriu, ali ao lado da Igreja (hoje matriz) de Prado, a Casa Lobo, dedicada à venda de vinho, tirado directamente dos pipos, e à mercearia. Nessa altura, a “pinga” era, certamente, acompanhada por uns nacos de broa caseira e uns pedaços de presunto do fumeiro.
Na mercearia, vendia-se tudo a granel, desde petróleo, azeite, arroz, cevada e restantes produtos lá comercializados.
Em 1973, o filho do fundador, Francisco Soares Macedo (foi, durante muitos anos, tesoureiro da Junta de Freguesia daquela localidade) herdou a loja, explorando-a até 1989, data em que a passou para a filha, a actual proprietária, Maria Albertina Gouveia Macedo (63 anos).
São, ela o marido, José Manuel da Silva Araújo (65 anos), os rostos atrás do balcão há três décadas e meia.
Os dois membros do casal têm tarefas definidas
Quem conhecer este casal, rapidamente se apercebe que ambos têm o perfil ideal para gerir este tipo de negócio. Conversadores, sorridentes e atenciosos são algumas das características que os define.
A ele cabe-lhe a missão de comprar o vinho, enquanto ela, para além de comprar toda a mercearia, encarrega-se de preparar, usando uma expressão do português de todos, petiscos “de trás da orelha”.
‘Zé Manel’ ainda usa ir bater às portas dos lavradores para lhes comprar as melhores barricas de vinho. Entre localidades de Vila Verde e de Ponte de Lima, vai encontrando a “pomada” capaz de lhe abrir os sentidos e de agradar aos seus fregueses.
Maria Albertina, de volta dos tachos, prepara petiscos regionais, os quais, segundo dizem, são “de lhes tirar o chapéu”.
Pataniscas são a rainha da casa
Fala-se na rua que as pataniscas da Casa Lobo, também conhecida por “Casa das Pataniscas” são uma autêntica delícia, mas só quem as prova pode afirmar com toda a clareza estarmos perante uma das grandes maravilhas daquela taberna, considerando-as das melhores da região.
«Há clientes que encomendam às dúzias para levarem para casa», disse-nos o proprietário.
Sardinhas pequenas, panados, rojões, ovos cozidos, fígado de cebolada, bacalhau frito, papas de sarrabulho e feijoada são outras iguarias ao dispor dos clientes.
Espaço foi renovado
Em 2007, para fazer face aos novos tempos e para um melhor serviço, o espaço foi renovado. No entanto, há coisas onde não se mexe, sendo exemplos a simpatia no atendimento e o cuidado e a qualidade na confecção dos produtos, hábitos vindos de outrora.
Resistir ao tempo
É sempre uma dúvida, para quem vê casas a fecharem as portas e outras a resistirem ao passar dos tempos e a conseguirem dar a volta às dificuldades, como é que uns conseguem e outros não.
Perante um negócio, onde à primeira vista parece ter os dias contados, José Manuel e Maria Albertina afirmam «continuarem a ter muitos clientes», alguns deles «vindos de bem longe», talvez «pelo atendimento» e pela «qualidade».
E é por entre canecas e tigelas de vinho (verde e maduro), juntamente com umas iguarias regionais, que se vai fazendo da Casa Lobo um comércio centenário, guardando nas suas paredes (o que resta de quando foi renomado) tantas histórias e momentos de convívio entre pradenses e visitantes.
ovilaverdense@gmail.com
Por Emílio Costa (CO 1179)