A ribeira de S. Victor, em Braga, “deixou de existir”, depois de se ter esvaído pelos coletores de águas pluviais, revelou esta segunda-feira o vereador do Planeamento e Ordenamento na Câmara local.
Durante a reunião quinzenal do executivo, e perante uma interpelação do vereador da CDU, João Rodrigues disse que o desaparecimento da ribeira foi atestado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
“A APA dá como assente que a ribeira de S. Victor desapareceu, tendo-se esvaído por uma série de coletores de águas pluviais. Não há qualquer vestígio da presença da ribeira. E, segundo a APA, isto é algo de comum, de frequente em tecido urbano”, acrescentou.
Segundo o autarca, a ribeira, no passado, foi desviada aquando da construção da via de acesso ao hospital e dos prédios dos moradores na Rua Luís Soares Barbosa. Nessa altura, o curso da ribeira terá sido “orientado” para redes de águas pluviais que, atualmente, absorvem o conjunto da água da mesma.
A presença da ribeira era um dos argumentos aduzidos pelos moradores na Rua Luís Soares Barbosa para contestarem a instalação de um ginásio no local.
UM MINUTO DE SILÊNCIO
Na reunião desta segunda-feira, o vereador da CDU, Vítor Rodrigues, questionou acerca do estudo de georreferenciação do curso da ribeira, acabando por ser surpreendido com a “notícia” do desaparecimento daquele curso de água.
Em tom irónico, Vítor Rodrigues sugeriu mesmo que fosse guardado um minuto de silêncio pela morte da ribeira.
Aos jornalistas, o vereador comunista considerou “interessante” que a APA tenha dado parecer favorável ao projeto e que só depois de se levantarem todas estas questões é que tenha concluído pela inexistência da ribeira.
“O problema não está resolvido. Acho que só se adensa, provavelmente com uma próxima temporada de episódios. Nós, certamente, até em conjunto com os moradores e em diálogo com eles, vamos tomar providências para manter o questionamento deste assunto, porque achamos que não nos satisfaz dizer-se que afinal a ribeira agora não existe e, portanto, está tudo bem. Não pode ser”, garantiu.
Em março de 2021, a APA emitiu parecer favorável ao projeto do ginásio, comunicando que, na sequência de uma análise pormenorizada dos elementos constantes do processo, se concluiu que “a faixa marginal de cinco metros adjacente ao leito da ribeira de S. Victor fica livre de quaisquer construções, permitindo o livre exercício da servidão administrativa” prevista na lei.
CONSTRUÇÃO CONTESTADA
Em causa está a construção de um complexo desportivo com ginásio e piscina, a cargo de um promotor privado, num espaço onde, em 2015, a câmara tinha plantado cerca de 50 árvores.
Para os moradores, a câmara está a pôr os “interesses imobiliários” à frente dos interesses ambientais e de quem ali vive, eliminando “o único espaço verde” ali existente.
Na sua contestação, os moradores dizem que o complexo previsto “nada acrescenta à zona”, uma vez que há nas imediações dois ginásios e o Complexo Desportivo da Rodovia, as Piscinas Municipais e os campos de ténis.
Sublinham que o empreendimento irá também provocar um aumento de circulação na zona, que “já é caótico”, e provocar “grandes transtornos” no acesso ao hospital.
Na reunião desta segunda-feira, o presidente da Câmara, Ricardo Rio, disse que a obra vai arrancar em breve.