Opinião de Simão Mota Leite
(Membro cooptado da CPCJ de Vila Verde)
É ponto assente que a utilização de telemóveis, tabletes e computadores é algo que está generalizado em todas as sociedades atuais por este mundo fora. Todas as faixas etárias os utilizam em diferentes propósitos das suas vidas diárias. Na última década, com mais visibilidade nestes últimos cinco anos, têm surgido estudos científicos sobre as consequências da sua utilização: nomeadamente a utilização precoce (infantil) e abusiva dos smartphones e os seus múltiplos efeitos nefastos – défice de atenção e memória; ansiedade, quando não estão online; qualidade de sono pobre; falta de competências na comunicação com pares e adultos; isolamento e depressão entre muitas outras problemáticas – em diversas áreas de desenvolvimento biopsicossocial das nossas crianças.
Claro que qualquer pessoa com bom senso considera que uma criança que sofre maus tratos físicos, ou é vítima de abusos sexuais, é uma criança em perigo. Porém, peço que pensem comigo na situação específica da negligência como forma de maus tratos, seja esta negligência por inércia, falta de tempo ou vontade dos pais. Pensemos na criança/jovem que chega da escola e passa três/quatro horas antes de jantar em frente ao computador; depois do jantar passa mais uma/duas horas agarrado ao telemóvel.
Estará esta criança/jovem a receber os cuidados ou a afeição adequados à sua idade e situação pessoal? Estarão os pais a exercer as suas funções parentais? Ou estará tudo a ser posto em causa? Quem é a pessoa que a criança mais ouve durante o dia? É o pai/mãe ou o youtuber? Por causa deste último ponto, existem muitos pais preocupados com a pronúncia e expressões brasileiras que os filhos apresentam; porém, na minha opinião, para além de serem os pais os principais culpados desta situação, é bem mais importante entender que ideias é que estão a ser veiculadas por esses youtubers e aceites pelos nossos filhos, isto porque uma ideia veiculada e aceite é a educação a acontecer. Os nossos filhos educados pelo telemóvel, educados pela ausência de convívio familiar, educados pelos outros!
Podemos afirmar sem dúvida que as crianças/jovens estão efetivamente em casa com os pais, porém só o estão de corpo presente pois onde elas verdadeiramente vivem é dentro de um computador/smartphone/telemóvel e quem sociabiliza com ela são tais outros adultos que eu (pai) nem faço ideia de quem sejam, e acima de tudo não faço nada para mudar essa situação…
Todos nós, seja a um nível mais individual como pais, ou como membros de uma sociedade, temos que atuar! Temos que parar e pensar seriamente na utilização que estamos a fazer das tecnologias de informação e comunicação, principalmente do telemóvel, e das sérias consequências de tal, para todos nós em geral, e principalmente para as nossas crianças.
Temos que fazê-lo, enquanto ainda é possível!