OPINIÃO

OPINIÃO -

Cibercrime

Texto de Rafael Gonçalves Fernandes (criminólogo)

A sociedade mundial tem assistido a uma mudança social, pois a vida em sociedade tem sido transferida para um novo domínio, o ciberespaço. Esta mudança contribui favoravelmente para a globalização e permite-nos realizar um diverso número de ações através de um simples clique. Contudo, não só de boas oportunidades é repleto o ciberespaço, pois acarreta alguns riscos.

O conceito de cibercrime apareceu com o nascimento da própria internet, visto que surgiram um leque de novas práticas criminais, que até então eram inexistentes.

A internet foi criada inicialmente para uso militar, em plena Guerra Fria. Era utilizada como uma ferramenta de circulação de informações militares, intitulada na altura como ARPANET e destinada a um nicho muito específico de utilizadores, como militares e investigadores.

Nos anos 90, este caráter reservado da internet passou a ser disseminado e comercializado, havendo rapidamente um aumento de utilizadores desta então nova tecnologia.

A utilização dos sistemas informáticos é cada vez mais essencial no dia a dia, fundamental para as atividades económicas e sociais, o que consequentemente levou a uma utilização em massa.

Conforme o Digital 2024: Global Overview Report, no ano de 2023 foram registados em todo o mundo cerca de 5,35 biliões de utilizadores de internet, número esse que corresponde a 66,2% da população mundial.

Segundo Hernâni Carvalho, a internet “não é um exclusivo de ninguém. Provavelmente não o realizamos, mas da mesma forma que diariamente nos ligamos à rede global deste lado do mundo, há biliões de cidadãos que, em línguas que desconhecemos em absoluto, fazem o mesmo nos inúmeros restantes cantos do mundo. Uns serão honestíssimos, outros nem por isso”.

O ciberespaço é de todos, até mesmo dos criminosos. A par do lado brilhante e útil da internet, temos o lado obscuro, com a presença de criminosos que aproveitam as fragilidades do sistema para praticarem crimes e consecutivamente alcançarem os seus objetivos.

O ciberespaço tem uma proporção impossível de calcular, com diferentes profundidades. Posso até fazer a analogia com uma cebola, em que a primeira camada é a internet a que todos temos acesso, onde os utilizadores fazem as suas pesquisas. Designada como internet de superfície onde se encontram os motores de busca mais populares como o Google, Youtube, Safari.

A cada camada que se for perfurando, e quanto mais fundo estivermos, a internet mais sombria e perigosa fica. É lá onde permanece a maioria da criminalidade praticada, o que não invalida a prática de cibercrimes na denominada internet de superfície.

Uma das camadas da internet que não é de acesso fácil para os utilizadores é a deep web, onde para aceder é necessário conhecimento informático técnico e especializado, pois necessita da utilização de programas informáticos específicos.

A deep web é um espaço de difícil rastreamento. Como existe a ocultação do IP dos dispositivos eletrónicos, torna-se difícil o monitoramento das atividades que lá decorrem, tornando-se assim um terreno fértil para a ocorrência de crimes.

O cibercrime compreende um conjunto alargado de práticas como a instalação de vírus e/ou ransomware, burlas, cyberbullying, roubo de dados pessoais, stalking, falsidade informática, sabotagem informática e acesso ilegítimo, entre outros.

De modo a prevenir uma possível vitimação, importa educar e sensibilizar a população para uma correta utilização das plataformas digitais.

É necessário adotar alguns comportamentos de modo a evitar sermos vítimas de cibercrime, como ter em atenção e-mails suspeitos com links e anexos duvidosos; ter um anti-vírus instalado; realizar compras apenas em sites credíveis e seguros (ex: https, cadeado); usar sistemas de pagamento seguro (ex: Paypal, MB Way, Multibanco); utilizar redes Wifi seguras; evitar redes Wifi abertas; não partilhar fotografias/vídeos com desconhecidos; manter os dados pessoais privados nas redes sociais; utilizar passwords fortes e diferentes em cada site/aplicação.

Além de prevenir, é necessário denunciar as possíveis situações de crime cibernético de modo a evitar a continuação da prática criminal.

 

Fontes:

Digital 2024: Global Overview Report

Terroristas – Hernâni Carvalho

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