Texto: Capitão Adelino Silva, Representante das Forças de Segurança na CPCJ de Vila Verde.
Era uma manhã como tantas outras, com o ritual habitual de preparar os filhos para a escola. O trânsito fluía lentamente, e a ansiedade de não chegar a tempo começava a instalar-se. Quando menos esperávamos, lá estava ela: uma patrulha da GNR parada à beira da estrada, com os agentes atentos aos movimentos ao seu redor.
Para muitos, ver a GNR significa apreensão – será que estou a respeitar o limite de velocidade? Terei tudo em ordem com os documentos do carro? Mas, naquele dia, algo diferente aconteceu. Uma criança, no banco de trás, apontou para os agentes e perguntou: “Pai, o que eles fazem?”
Respirei fundo. Como encarregado de educação, senti o peso de explicar a função daqueles homens e mulheres que vestem farda. Disse-lhe que são como os guardiões do trânsito, que ajudam as pessoas a respeitar as regras para que todos cheguem bem ao seu destino. Expliquei que a GNR não está ali para assustar, mas para proteger.
Contudo, a conversa não ficou por aí. A curiosidade infantil é insaciável. “E se eu me perder? Eles ajudam-me a encontrar-te?” A pergunta tocou-me. Sim, respondi com convicção. Os agentes da GNR são também os que ajudam as crianças perdidas, que procuram as pessoas que precisam de ajuda, que garantem que, mesmo nas situações mais difíceis, existe alguém em quem podemos confiar.
Naquele instante, percebi o papel crucial que temos como pais ou encarregados de educação: moldar a perceção das crianças sobre as instituições que fazem parte da sociedade. Ao invés de perpetuar medos ou estereótipos – como o clássico “Se não te portas bem, chamo a polícia” – temos a oportunidade de ensinar que estas entidades estão lá para o nosso bem.
Ao despedir-me do meu filho na escola, olhei novamente para a patrulha da GNR. Desta vez, com outro olhar: de gratidão, por serem uma presença que inspira respeito e, acima de tudo, segurança. Afinal, a visão de uma criança é muitas vezes o reflexo daquilo que nós, adultos, lhes transmitimos. E cabe-nos a nós fazer dessa visão uma de confiança e esperança.
Porque, na ótica de um encarregado de educação, cada interação é uma lição – e cada lição é uma semente para o futuro.