Música, emoção, luta e liberdade. As palavras foram sendo repetidas entre as dezenas de pessoas que encheram, esta sexta-feira à noite, a sala principal da Biblioteca Professor Machado Vilela, em Vila Verde, para a apresentação da obra “Luís Cília – discografia completa”.
Luís Cília foi um dos impulsionadores da canção de intervenção em Portugal e esta obra, da autoria de Octávio Fonseca e editada pela Tradisom, de José Moças, reflete todo o seu percurso musical e sua influência na luta contra a ditadura portuguesa.
«Estou comovido com a vinda aqui a Vila Verde e de saber que há gente interessada na minha obra», apontou Luís Cília, hoje com 81 anos.
A sessão integrou ainda a atuação dos músicos José Manuel David e Rui Vaz, trazendo interpretações de algumas das canções mais emblemáticas do artista.
A noite ficou, ainda, marcada pela partilha de testemunhos. Desde colecionadores da sua discografia a pessoas que viveram a Guerra Colonial e a ditadura portuguesa, a emoção tomou conta da sala com o contributo de cada um.
A obra, em apenas um mês, esgotou. José Moças aproveitou o momento para anunciar que, em breve, estará disponível mais uma edição.
CANTOR DE INTERVENÇÃO
Ao lado de Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, Luís Cília foi um dos impulsionadores da canção de intervenção nos anos 60 do século passado.
A noite foi centrada no seu primeiro disco “Portugal-Angola: Chants de Lutte”, editado em França, em 1964.
«Luís Cília nasceu em Angola, veio para Portugal para o liceu e, depois, foi para a França para fugir à guerra colonial», contou Octávio Fonseca, autor da obra.
No disco referido, o primeiro, «põe os nomes aos bois: “Salazar, Caetano”». «É bem preciso que hoje se volte a ouvir esta música», referiu.
«Não há populismo, há fascismo, à espera que chegue um novo Hitler», frisou.
Referindo Daniel Filipe, poeta que Luís Cília conheceu em França e que escreveu muitas músicas que o mesmo canta, influenciando-o, Octávio Fonseca encerrou a sua intervenção com uma história.
Numa das críticas a este álbum, uma se destaca. O autor passa a citar, dizendo: «Ouvi uma fita gravada, uma reprodução de um disco, cantado por um exilado Luís Cília, 13 canções, nunca ouvi nem li coisa tão monstruosa contra o regime, ataca Salazar, mente acerca da guerra».
Trata-se de uma nota da PIDE, datada de 16 de fevereiro de 1967. O autor refere que este é, na verdade, «o melhor elogio».
Luís Cília, pelas suas intervenções, destaca um bracarense. «Conheci um grande senhor que muito nos ensinou, Vitor de Sá, de Braga». Segundo o artista, Vítor de Sá «tinha uma grande cultura e fazia umas palestras». «Aprendi muito, devo muito a uma pessoa de Braga», termina.
A iniciativa integrou a programação do programa “Aqui Há Cultura”, feito em parceira pela Escola Profissional Amar Terra Verde (EPATV), o Município de Vila Verde e a Biblioteca Professor Machado Vilela.