Texto de Rafael Gonçalves Fernandes (Criminólogo)
A violência exercida entre parceiros não é um exclusivo das relações entre pessoas adultas. É nas relações de namoro que se tem verificado um crescente número de casos de violência exercida sobre o/a parceiro/a.
À semelhança da violência doméstica, a violência no namoro consiste na prática de ações violentas contra o/a parceiro/a. Estes atos podem ter uma dimensão física, emocional e/ou sexual. Este tipo de comportamentos nefastos tem como objetivo exercer controlo e poder sobre a vítima.
A respeito da celebração do dias dos namorados, dia 14 de Fevereiro, foi publicado e apresentado o Estudo Nacional sobre Violência no Namoro, desenvolvido pela UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) no âmbito do projeto ART’THEMIS+.
O presente estudo foi realizado com jovens e adolescentes que frequentam o 7º ao 12º ano de escolaridade do ensino regular secundário e profissional, com residência em Portugal. Envolvendo um total de 6732 jovens com média de 15 anos de idade.
No estudo, verifica-se por parte dos jovens inquiridos uma legitimação dos atos de violência. Descredibilizando e aceitando comportamentos que não deveriam ser, de todo, tidos em conta como toleráveis.
Do conjunto de questões realizadas sobre a identificação de atos de violência no namoro, as estatísticas são surpreendentes. 63,6% dos inquiridos não considera o controlo como um comportamento violento no namoro, 35,4% identifica a perseguição como não sendo algo abusivo, 35,3% não considera grave a violência psicológica, 34,2% acredita que a violência sexual não é um comportamento de violência no namoro, 19,4% padroniza a violência exercida através das redes sociais e 8,8% dos jovens não considera a violência física como um comportamento de violência no namoro.
Verifica-se um desfasamento entre a gravidade dos atos que constituem a violência no namoro e a perceção dos jovens em relação a essa mesma gravidade, sendo notório o aligeiramento dos comportamentos agressivos.
No que se refere aos indicadores de vitimação, do total de inquiridos que já tiveram uma relação amorosa, 66,3% afirmam ter experienciado pelo menos um dos indicadores de vitimação questionados na investigação. Cerca de 50,8% vivenciaram o controlo, 39,9% violência psicológica, 22,1% perseguição, 19,8% violência através das redes sociais, 18,3% violência sexual e 12% violência física.
Os comportamentos violentos mais relatados são: insultar durante uma discussão (32,5%); proibir de estar com uma pessoa amiga ou colega (29,2%); procura insistente (22,1%); insultar através das redes sociais (17,8%); pressionar para beijar (12,4%); empurrar ou esbofetear sem deixar marcas (9,9%).
A normalização das ações do/a parceiro/a, a eterna esperança de que o comportamento violente seja alterado, o medo de ser culpabilizado pela relação abusiva e o sentimento de vergonha são fatores que impossibilitam pôr fim à relação. O que por sua vez leva a uma contínua perpetuação do comportamento violento por parte do/a agressor/a.
A violência não tem lugar, jamais pode ser aceite. Deve-se estar atento aos sinais e pedir ajuda. A grande maioria dos jovens não procura ajuda, até porque, como é possível observar no Estudo Nacional sobre a Violência no Namoro, os comportamentos violentos não são tidos em conta como graves. Se não há perceção de que o comportamento é grave, não vê a necessidade de o denunciar.
A procura de ajuda deve ser realizada e pode ser solicitada a amigos e familiares, contudo é necessário que haja acompanhamento por parte de um profissional. Pedir ajuda às autoridades policiais, estruturas de apoio como a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima), centros de saúde e escolas, é uma mais-valia, pois são entidades que podem fornecer o apoio necessário à vítima e a quem a rodeia.
A par da deteção dos comportamentos violentos é necessário haver um reforço no investimento da prevenção primária realizada no contexto escolar de modo a combater este flagelo. É essencial uma capacitação contínua e sistemática das nossas crianças e jovens sobre estas temáticas, para que assim seja possível identificar situações de violência quando estejam perante as mesmas. Assim como saber que mecanismos estão a sua disposição para atenuar e solucionar este tipo de violência.
É imprescindível que as crianças e jovens reconheçam que qualquer tipo de violência não é aceitável em qualquer situação, muito menos numa relação de namoro, onde deve imperar o respeito e a compreensão.