Por Jorge Dinis Oliveira
São 57 os quilómetros de distância entre Braga e o aeroporto Sá Carneiro, 436 quilómetros até Madrid e mais de 10.000 quilómetros até Buenos Aires. Assim iniciou a minha viagem rumo à Patagónia!
Há alguns anos que esta viagem estava na minha lista de desejos mas sempre encontrei motivos para não a fazer. Falta de dinheiro, falta de tempo, excesso de trabalho, não dá jeito agora ou não dá jeito depois. Não é difícil encontrar motivos para adiar algo indefinidamente. Mesmo que faça parte da nossa lista de desejos.
De Buenos Aires até Comodoro Rivadavia, na província de Chubut, a cidade mais a sul onde estive, foram mais 1500 quilómetros de avião. Somente 1000 quilómetros me distanciavam do Estreito de Magalhães e do fim do mundo.
Na cidade de Comodoro Rivadavia, cujo crescimento se deve à indústria do petróleo, tive o prazer de visitar a sede da comunidade portuguesa e ser muito bem recebido pela Sra. Hilda Mendonça. Mais de 1500 almas portuguesas habitam aquele território da Patagónia. Está por descobrir uma região do mundo onde não habitem portugueses.
Mas não fiz a viagem em busca de cidades mas de paisagens, não em busca do urbano mas da natureza.
Na Punta del Marques em Rada Tily, cidade onde fiquei os primeiros dois dias, tive o meu primeiro contacto com a natureza: raposas, leões-marinhos e uma planície costeira ventosa sob um céu azul deslumbrante. De noite o contacto foi de natureza humana, com muita cerveja artesanal e carne de churrasco.
Daí em diante a viagem seria sempre de automóvel, ao longo de 1757 quilómetros, desde Rada Tily até Bariloche passando por Puerto Madryn, Neuquen, San Martin de los Andes, Villa Angostura terminando em Bariloche.
Em Punta Valdes (Puerto Madryn) visitei os pinguins de Magalhães, lobos-marinhos, tatus, guanacos e emus (Darwin’s Rhea), em Villa Angostura o Parque Nacional Los Arrayanes, em San Martin de los Andes o Parque Nacional de Lanín e em San Carlos de Bariloche, o Parque Nacional Nahuel Huapi. Nestas últimas três cidades a paisagem era monotonamente deslumbrante. Lagos glaciares cristalinos flanqueados pelo verde da floresta e pelas montanhas com os cumes ainda gelados. Todo este cenário adequadamente acompanhado por gelados e chocolates artesanais.
Após San Carlos de Bariloche restou-me apenas iniciar a frustrante viagem de regresso a casa por Buenos Aires, Madrid, Sá Carneiro e finalmente Braga.
Se conhecia a Argentina pelo futebol, tango e mulheres bonitas agora conheço a Argentina pelas cervejas, gelados e chocolates. Não foram apenas as paisagens que me deliciaram.
Mas não viajei sozinho e quem me motivou entusiasticamente a decidir de uma vez por todas foi a minha amiga Susana. Ela vive na Patagónia com a família e ajudou-me a criar as condições para que esta viagem se tornasse uma realidade. Se poderia ter visitado a Patagónia sem o convite dela? Claro que sim. Mas não seria a mesma coisa.
Com amigos vamos mais longe, literalmente.