Autor: Catarina Loureiro
Vive-se em Portugal um momento de grande agitação na área da geologia, causada pela recente procura por lítio, mineral utilizado nas baterias de telemóveis e de veículos elétricos.
Esta questão tem gerado grande debate na comunidade geológica e na sociedade civil; se por um lado a exploração mineral é essencial para o desenvolvimento das sociedades humanas, por outro há preocupações com a protecção da natureza e preservação ambiental.
Será, então, a exploração de recursos incompatível com a preservação do património natural?
O património geológico corresponde aos elementos da geodiversidade – rochas, minerais, solos, etc – que possuem elevado valor científico. São locais que registam uma página importante na história da Terra.
Por vezes preservam a memória de um episódio único (por exemplo, o limite geológico conhecido por camada K-T, que regista o momento da extinção dos dinossauros na Terra, visível no País Basco em Espanha). Outras vezes correspondem a fósseis importantes para contar a história da vida na Terra (como os fósseis de trilobites gigantes em Arouca, ou os trilhos de pegadas de dinossauros na Serra D’Aire). Podem ainda ser testemunhos de climas antigos (como o vale glaciário do rio Zêzere em Manteigas na Serra da Estrela, testemunha de que aquela região já esteve coberta de gelo).
Estes locais, pela sua importância científica, educativa e até turística carecem de ser preservados e valorizados.
A geoconservação é a disciplina que se dedica à preservação, valorização e divulgação do património geológico.
Em Portugal a protecção do património natural, geológico ou biológico, está a cargo do instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, nomeadamente através da Rede Nacional de Áreas Protegidas e da figura de Monumento Natural, que tal como um Monumento Nacional corresponde a um local único de valor extraordinário.
A UNESCO reconhece a importância deste património através da Rede Mundial de Geoparques. Geoparques são locais com património geológico notável associado a uma estratégia de desenvolvimento sustentável que beneficia economicamente as populações enquanto valoriza o património através do turismo de natureza. Em Portugal existem quatro Geoparques Mundiais (Arouca, Terras de Cavaleiros, Naturtejo e Açores).
A exploração de recursos naturais é inevitável e indispensável para as sociedades. No entanto esta deverá ser limitada, preservando locais de elevado valor patrimonial, essenciais para a memória colectiva da Humanidade.