No final do ano 2019 surgiu na China, na cidade de Wuhan, o vírus SARS-CoV2, da família dos coronavírus e que tem capacidade de infetar o ser humano, originando a doença que a comunidade científica atribuiu o nome de COVID-19.
A doença tem, basicamente, as mesmas características de uma gripe comum: febre, tosse, dores musculares, sensação de fadiga e, em alguns casos, associa-se a dificuldades respiratórias que acontecem nas situações em que se desenvolve uma pneumonia viral. Algumas pessoas não chegam a desenvolver sintomas, apesar de estarem infetadas e a maioria apresenta sintomatologia ligeira a moderada.
Não existe nenhum tratamento específico para a infeção e a maioria dos casos acabam por ser autolimitados e resolvem-se espontaneamente, sem qualquer intervenção médica. Porém, em algumas pessoas (estima-se que sejam cerca de 20% dos casos de infeção), a COVID-19 pode conduzir a quadros mais graves como pneumonia com necessidade de internamento hospitalar. Naturalmente que estes quadros mais graves acontecem, tendencialmente, nas pessoas idosas ou com doenças crónicas que as colocam numa situação de maior fragilidade perante a infeção.
Ao tempo que decorre entre a infeção e o início dos sintomas chamamos de período de incubação. Esse período pode ser até 14 dias, embora, na maioria dos casos, a sintomatologia acontece, em média, 5 dias após a infeção. A transmissão de pessoa para pessoa ocorre durante uma exposição próxima a pessoa com COVID-19, através da disseminação de gotículas respiratórias produzidas quando uma pessoa infetada tosse, espirra ou fala. A transmissão a partir de indivíduos assintomáticos (ou ainda no período de incubação) está descrita, embora, ainda não há certezas relativamente a estes dados.
Estamos numa época do ano em que são comuns os “resfriados” ou as “constipações”. A procura de cuidados de saúde motivados por queixas do trato respiratório superior e inferior, como tosse, espirros e congestão nasal, febre ou outros sintomas, sofre um largo incremento nestes meses de inverno. Há muitos vírus em circulação nesta altura do ano: vírus da gripe, rinovírus, vírus sincicial respiratório, etc.
Todos originam doenças com quadros semelhantes e o novo coronavírus não foge a esta regra. Perante isto, a questão que se coloca é quando é que um quadro de tosse e/ou febre nos levanta a suspeita de estarmos perante um caso de infeção pelo novo coronavírus? O que diferencia uma simples constipação de uma possível COVID-19?
Seguindo critérios epidemiológicos atuais e as recomendações da Direção-Geral da Saúde, a suspeita de infeção por coronavírus só acontece quando estamos perante um doente com febre e/ou outros sintomas como tosse ou dificuldade respiratória que tenha regressado de uma área com transmissão comunitária ativa ou, então, tenha contactado com uma pessoa com a doença (nos últimos 14 dias).
Neste momento, são consideradas como regiões críticas a China, a Coreia do Sul, o Japão, Singapura, Irão e Itália, particularmente as regiões de Emiglia-Romagna, Lombardia, Piemonte e Veneto, no norte do país. Nestes casos ou até noutros que lhe possam suscitar dúvidas, deverá, em primeira instância, recorrer à Linha SNS 24 (808 24 24 24) ao invés de se dirigir no imediato para um Centro de Saúde ou a um Serviço de Urgência.
Não temos tratamento específico para a COVID-19 e, por isso, a melhor maneira da população lidar com este vírus é, sobretudo, através da prevenção, reduzindo as possibilidades de ser propagada a infeção. Alguns especialistas recomendam evitar viagens para a China e para as regiões mais afetadas e com casos descritos de COVID-19, como as referidas anteriormente.
Entre as recomendações emanadas pelas autoridades de saúde estão algumas simples e eficazes medidas de prevenção da disseminação do vírus: quando espirrar ou tossir tape o nariz e a boca com o braço ou com lenço de papel que deverá ser colocado imediatamente no lixo; lavar frequentemente as mãos, com água e sabão ou usar solução à base de álcool; se regressou de uma área afetada, evite contacto próximo com outras pessoas.
Uma das principais razões por que estamos a tomar estas e outras medidas de contenção num vírus que não é especialmente letal é para conseguir fazer com que esta pressão que é expectável que exista nos cuidados de saúde seja a menor possível. Relembro que se espera que 20% das situações sejam complicadas e necessitem de cuidados diferenciados em ambiente hospitalar. Se deixarmos, nesta fase, que o vírus se alastre de forma natural na comunidade, a pressão sobre os serviços de saúde vai ser muito maior.
Ao promovermos algum controlo desta transmissão comunitária, o recurso aos serviços de saúde vai sendo mais faseado e ganhamos tempo para que a informação sobre a doença seja maior e mais robusta.