Opinião de João Araújo
(Sobre)vivemos numa sociedade que nos incutiu, nos últimos 10 a 15 anos, um ritmo no nosso dia a dia, que roça o surreal. Corremos de manhã para chegar a horas ao trabalho, comemos a correr, vamos buscar as crianças à última da hora, ajudamos com os trabalhos de casa, jantamos e vamos para a cama a correr porque já é demasiado tarde e não temos tempo para mais nada. Este ritmo que nos foi incutido faz-nos perder muitas coisas importantes: saúde, tempo com a família, tempo de lazer e momentos de descanso e reflexão. Falta-nos algo que eu considero uma arte: saber esperar! Ter a paciência e o discernimento de perceber que tudo no mundo tem o seu tempo, seja de criação, produção ou execução.
Quando foi a última vez que “namoraram” algo antes de o adquirir? Aquele período em que nos imaginamos com o objeto e que fantasiamos as suas aplicações. Quando nos convencemos que aquilo é algo que nos faz falta. É este processo que faz com que o entusiamo não se perca no segundo imediato após a compra por impulso. Quando foi a última vez que tivemos paciência para esperar que um profissional tivesse o tempo que acha necessário para concluir o seu serviço de forma eficaz e bem pensada e executada? É que agora só somos bons profissionais se o fizermos extremamente rápido e mesmo assim isento de qualquer erro.
Contra mim falo, sempre tive gosto de tentar fazer tudo o que os outros faziam em metade do tempo e ainda melhor se possível. Fruto da adrenalina provocada pela aprovação do cliente e dos colegas de trabalho. Mas com o tempo e o nascimento dos meus filhos, cada vez mais essa sensação começou a ter um sabor agridoce. Com o excesso de trabalho sentido nos últimos anos, graças ao boom causado pela recuperação económica em Portugal, deixei de ter qualquer prazer em ser mais rápido do que qualquer um. Comecei a sentir uma realização maior em projetar e executar com o objetivo de superar as expectativas. E fiquei a olhar para o lado a ver os outros a correr, não para fazer bem, mas para fazer rápido.
Mesmo antes de toda esta situação relacionada com a pandemira adoptei uma postura de saber esperar e de fazer esperar, porque tudo o que é bom tem de demorar o seu tempo. Dou por mim a reflectir mais no que faço profissionalmente, a cometer menos erros, a criar ligações mais fortes com os clientes e a obter melhores resultados. Tudo isto apenas porque recuperei a arte de saber esperar. Namoro as coisas, stresso menos e entrego resultados de melhor qualidade, por isso convido os leitores a experimentarem fazer o mesmo!