Opinião de Inês Pulido
Quando era pequena adorava entrar em casas que ainda não conhecia, de ver os espaços, as escadas e lembro-me que me fascinava olhar com atenção para a luz que entrava pelas janelas. Um dia, aos 11 anos, perguntaram-me o que eu queria ser quando fosse grande. Arquiteta – respondi logo – sem dúvida nenhuma.
Fui crescendo e a minha paixão por espaços desconhecidos aumentou, visitei casas senhoriais, museus, castelos, palácios e pontes de norte a sul. Em cada sítio percebi a influência da luz nos espaços e por consequência nas pessoas. Numa dessas casas, a luz que entrava pelo vitral colorido mesmo em cima da escadaria principal, conferia ao espaço um ar enigmático, no castelo, a luz de baixa intensidade e quase sombria fazia-o mais assustador do que de facto era e, nas pontes, a luminosidade refletida pela imensidão da água tornava a paisagem fascinante.
Em Arquitetura estudei o impacto das nossas construções, nas nossas vidas e sociedades. Fiquei estarrecida, a luz, jamais poderia ser dissociada do nosso dia-a-dia. De manhã, a luz deve acordar-nos suavemente e aumentar de intensidade até ao final da tarde até que o sol se põe nas nossas salas de estar, este é um truque básico no conceito de habitação. No interior, podemos acrescentar detalhes de luz artificial que fazem a diferença: o posicionamento de luzes suaves de presença que nos auxiliem na utilização dos espaços, quer dentro de um roupeiro ou num corredor como guia do percurso. A intensidade da luz deve ser articulada com as nossas rotinas como uma extensão das nossas ações dentro de casa. O seu filho tem medo do escuro? Coloque uma leve luz de presença de tom quente que liga quando acorda. Escolha a cor da luz de acordo com a função de cada espaço – cor quente ou fria. A luz “quente” remete-nos para um local calmo, de descanso ou de leitura, já a luz “fria”, para espaços de trabalho como a cozinha, a garagem, ou o espaço exterior onde pode optar por um sensor noturno. O domínio da luz pode ser complementado com truques de cor, como a utilização de tons claros nos espaços interiores onde esta se reflete, multiplica-se e o espaço cresce.
Hoje tenho a sorte de poder desenhar e construir casas atentas às necessidades base de quem nelas habita. Se um dia destes nos cruzarmos, num projeto, ou na vida, o meu sonho continua a ser conhecer casas desconhecidas e iluminá-las por dentro. A luz. A mais suave e extraordinária influência do universo parece frágil, mas não o é…tem um poder infinito.