O primeiro-ministro considerou esta sexta-feira que Portugal precisa de uma base de entendimento política sólida, afirmando que essa condição é indispensável com a actual crise pandémica e rejeitando “competições de descolagem” entre partidos e “calculismos” eleitorais.
Esta mensagem sobretudo dirigida às forças à esquerda do PS na Assembleia da República foi deixada no discurso de António Costa na abertura do debate do Estado da Nação.
“Precisamos de uma base de entendimento sólida e duradoura. Se foi possível antes, certamente terá de ser possível agora. Se foi útil antes, revela-se indispensável agora, ante o desafio de vencer uma crise pandémica com aquela que nos assola”, justificou o líder do executivo.
Para António Costa, entre as forças de esquerda no parlamento, “são várias as posições conjuntas que os aproximam: O desígnio de reforçar a capacidade produtiva e a valorização dos nossos recursos; a prioridade ao fortalecimento dos serviços públicos e o reforço do investimento público; o combate às precariedades na habitação e no trabalho; a luta contra as desigualdades”.
“Estes são objectivos que partilhamos e em torno dos quais é possível estruturar um roteiro de acção a médio/longo prazo, sem prejuízo, como sempre, das conhecidas diferenças que definem a identidade de cada um, ou das visões distintas sobre a Europa e a importância da estabilidade do quadro macro-económico, com que temos sabido conviver”, declarou o primeiro-ministro, insistindo assim num acordo de legislatura com o Bloco de Esquerda, PCP, PAN e PEV.
Perante os deputados, António Costa reafirmou que o seu Governo tem “mais do que disponibilidade, vontade política de reforçar com a saudável previsibilidade, coerência e continuidade as políticas que respondem não só às necessidades imediatas dos portugueses, mas também ao imperativo de transformação estrutural do país”.
“A resposta a esta crise não passa pela austeridade ou por qualquer retrocesso nos progressos alcançados nos últimos cinco anos. É com os partidos que connosco viraram a página da austeridade que queremos prosseguir o caminho iniciado em 2015. E, para esse efeito, necessitamos de um quadro de estabilidade no horizonte da legislatura”, acentuou.
Neste contexto, António Costa deixou aos partidos à esquerda do PS uma advertência: “A magnitude da tarefa que temos em mãos não se compadece com acordos de curto prazo, nem com tácticas de vistas curtas, baseadas em despiques de popularidade, competições de descolagem ou exercícios de calculismo eleitoral”.
“Ninguém espere deste Governo qualquer contributo para uma crise política”, avisou.