O embaixador do Irão em Lisboa revelou que o seu país se viu obrigado a comprar medicamentos a Portugal para fazer face à pandemia da covid-19.
Falando ao PressMinho, à margem do encontro que manteve esta sexta-feira com Ricardo Rio, presidente do município bracarense, Morteza Damanpak Jami garante que as autoridades de saúde iranianas se viram obrigadas a recorrer a Portugal para adquirir os medicamentos que necessitava “urgentemente”, num momento “especialmente difícil” no combate ao SARS-CoV-2 no país, o mais atingido em toda a região do Médio Oriente.
“O sucessivo agravamento das sanções impostas pela Administração de Donald Trump cortaram as linhas de financiamento para a compra dos medicamentos numa altura em que a actividade económica estava bastante enfraquecida pela pandemia e, claro, pelas próprias sanções”, diz. Daí o recurso a Lisboa para “fazer chegar ao Irão os medicamentos”.
TRUMP OU BIDEN?
Mesmo afirmando que as pesadas sanções, a pandemia e a quebra dos preços do petróleo estão “a provocar tempos muito difíceis”, o representante diplomático do país dos ayatollahs afirma que avaliar uma Administração norte-americana com Donald Trump ou outra com o democrata Joe Biden, o presidente eleito, é colocar uma “falsa questão”.
“O importante é não é a mudança da Administração dos Estados Unidos. É o comportamento para com o nosso povo que é importante”, diz, lembrando que mesmo a presidência de Obama impôs sanções para obrigar o seu país a aderir ao acordo internacional sobre o programa nuclear.
No entanto, Morteza Damanpak Jami reconhece que “Trump foi o pior [Presidente]: retirou-se do acordo nuclear, em 2018, agravou sucessivamente as sanções e promoveu inúmeras conspirações contra o Irão e o seu povo”.
“Se a Administração do Presidente eleito Biden mudar de atitude para connosco, se mudar o relacionamento e corrigir as erradas seguidas pela Administração Trump e pelas anteriores, então prestaremos toda atenção [aos EUA]”, assegura.
Para isso, o primeiro passo de Biden “é regressar –frisa- ao JCPOA (Plano de Acção Conjunto Global, na sigla em inglês) sobre o nuclear e a total implementação do acordo”, recordando que só os EUA renunciaram ao plano, assinado em 2015 entre a República Islâmica do Irão e o designado P5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e ainda a Alemanha), com a participação da União Europeia.
O representante de Teerão deixa um conselho a Joe Biden: “se quiser conversar frente-a-frente com o Irão, o primeiro passo é corrigir o comportamento das administrações anteriores”.
“Até lá, o Irão não vai dar um passo para qualquer negociação bilateral”, assegura.