É inegável que vivemos num mundo onde a generalidade das pessoas é mais informada. A notícia surge em qualquer canto ou esquina, ora pelos jornais, ora pela televisão ou telemóvel. A Internet democratizou o acesso ao conhecimento e as redes sociais tornaram-se num veículo de difusão de notícias e opiniões que facilmente se generalizam e chegam a um espetro mais alargado de público. Esta massificação da notícia, da informação, do conhecimento e da opinião é, sem dúvida, positiva, pois dá voz a quem, de outro modo, não se poderia fazer ouvir.
As redes sociais podem ser, na verdade, um campo de estudo extremamente fértil para uma análise sociológica dos tempos modernos. Começando pelas caixas de comentários que surgem no contexto de qualquer notícia difundida nestas redes. Impressiona a falta de respeito das pessoas e a capacidade com que se manifestam completamente intolerantes em relação a opiniões ou visões contrárias. É incrível, a forma como as redes sociais democratizaram a nossa capacidade de injuriar, como se um ecrã de computador bastasse para servir de escudo protetor ao insultante que goza, assim, de total impunidade. Considero, por isso, importante haver mecanismos que permitam regular e, eventualmente, punir todos aqueles que, fazendo uso da liberdade de expressão, o fazem extravasando os limites do razoável, insultando e difamando, sem fundamento, sem educação e sem regras. Esta impunidade tem de acabar!
Vivemos, também, amordaçados pelo politicamente correto, por correntes reinantes que, facilmente, sentimos como dominantes. Há um ideal que predomina e parece querer impor-se como norma vigente onde se aplaudem os cordeirinhos que seguem esse caminho e se atiram pedras aos poucos que, ousados, se mostram defensores de um pensamento divergente desses modelos de pensamento. É fácil saber o que dizer para arrancar aplausos e é igualmente fácil entender o que não dizer para evitarmos ser trucidados pelos pregadores do politicamente correto.
Nos dias de hoje, uma informação falsa torna-se, em poucos minutos, numa verdade insofismável, difícil de refutar. As notícias falsas crescem nas redes como ervas daninhas no meio do prado, tornando, muitas vezes, difícil distinguir o trigo do joio. Aliás, um artigo publicado na revista Science (“The spread of true and false news online”, 2018), conclui, precisamente, que as notícias falsas têm tendência para se espalhar mais rapidamente do que as verdadeiras. Neste estudo, que se baseou em 126.000 publicações no Twitter por parte de 3 milhões de utilizadores, concluiu-se que mesmo as notícias verdadeiras mais populares raramente alcançaram mais de 1.000 pessoas. Por outro lado, as principais notícias falsas analisadas foram partilhadas por 1.000 a 100.000 pessoas. Estas têm 70% mais probabilidade de serem partilhadas do que as notícias verdadeiras. Por isso, o fact-checking se tornou tão popular dos dias de hoje. A agravar esta tendência parece-me que privilegiamos partilhar o que gostaríamos que fosse verdade, sem nos preocuparmos muito em saber se o que partilhamos tem o mínimo de credibilidade. Além disso, partilhamos, com uma leveza incrível, o mau em detrimento do bom. A má notícia vende mais, interessa mais, espalha-se mais.
Um dia, no final de uma missa, ouvi o apelo de um Sacerdote para que, durante a semana, só abríssemos a boca para dizer algo que cumprisse três premissas: ser verdade, útil e bom! Ao mesmo tempo, e em jeito de provocação, terminou dizendo que, naquela semana, provavelmente, íamos andar mais calados. E talvez não se tenha enganado!