OPINIÃO

OPINIÃO -

Demasiado tempo à frente do ecrã

Por Luís Sousa
Médico

Vivemos novos tempos em que as tecnologias vão dominando o nosso quotidiano. Já não é só a televisão que nos ocupa o dia a dia, mas são vários os ecrãs que nos vão preenchendo o tempo, com os telemóveis a dominarem e a ganharem cada vez mais espaço.

Tornou-se banal ver grupos de amigos à mesa do café completamente indiferentes uns aos outros, pais totalmente alheados dos filhos porque ocupam o seu tempo em frente a um telemóvel ou filhos que não brincam, não correm nem saem do sofá porque as horas dos seus dias são passadas de clique em clique ao sabor dos vídeos do youtube.

É difícil evitarmos a presença destas tecnologias. Diria até, impossível. Fazem parte das nossas vidas. Porém, devemos refletir sobre o tempo que passamos em frente ao ecrã e o tempo que somos absorvidos nesta realidade paralela que nos consome a atenção e nos retira tempo para a família, para os amigos e para muitas outras coisas importantes na vida.

Preocupa-me o tempo que as crianças passam em frente da televisão, dos telemóveis, dos tablets. A American Academy of Pediatrics não recomenda qualquer tempo de ecrã a todas as crianças abaixo dos 2 anos de idade e, acima dessa idade, sugere que não se ultrapassem as duas horas por dia. Também sou pai e sei da dificuldade que é, por vezes, os adultos conseguirem cumprir certas tarefas do seu dia a dia com as crianças a pedirem a sua atenção e sei também que, nessas horas, é tentador dispensar-lhes um ecrã que, facilmente, as vai acalmar e distrair.

Chamo, porém, a atenção para a facilidade com que podemos exagerar neste comportamento. Porquê? Demasiado tempo de ecrã mostrou uma associação com o aumento da obesidade infantil, distúrbios do sono ou problemas de atenção o que, como se compreende, pode ter reflexos na vida das crianças e no seu desempenho escolar.  Estima-se que 60% da incidência de excesso de peso aos quatro anos de idade se relaciona, também, com o excessivo tempo de ecrã.

Vários mecanismos podem explicar esta associação como a consequente redução da atividade de física inerente a este comportamento e o aumento da ingestão calórica durante esse tempo. Estudos revelam que crianças com mais tempo de ecrã consomem menos frutas e vegetais e mais bebidas e snacks ricos em calorias e com maior teor de gordura.

Isto é facilmente compreensível se pensarmos no tipo de alimentos que as nossas crianças pedem ou comem enquanto veem televisão. Já para não falar da dificuldade que é controlar o teor dos conteúdos às quais as crianças podem aceder através do telemóvel, sem qualquer supervisão de um adulto.

Que tempo passam os nossos filhos em frente ao ecrã? É esta a questão que vos deixo para cada um refletir. Nós, como pais, facilmente caímos no erro de não servirmos de exemplo e sabemos que, em matéria de educação o lema “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço” dificilmente surte efeito.

Acredito que uma das melhores formas de educarmos e ajudarmos as nossas crianças a crescerem é fazê-lo através do exemplo e, em matéria de tempo de ecrã, nós, adultos, temos também muito que refletir.

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