Por Luís Sousa
Há dias, tive o privilégio de marcar presença na apresentação de um novo livro sobre a história do concelho de Vila Verde, do autor e professor Manuel Afonso. Este livro, “Capela de Santo Amaro – Memória História”, deve motivar o orgulho dos Vilaverdenses, particularmente os naturais da paróquia de Atães, por verem editado um documento de tão distinta qualidade que aborda a história da terra.
Trata-se de um livro, muito bem escrito e bem fundamentado, focado na Capela de Santo Amaro que, originalmente, fora propriedade da Quinta de Santo Amaro onde existe a casa do Paço de Atães que até serviu de refúgio a gente tão ilustre como D. António, Prior da Ordem do Crato, neto de D. Manuel I e pretendente ao trono de Portugal após a crise aberta pela sucessão com a morte inesperada do Rei D. Sebastião. A riqueza em conteúdo do livro é grande, estando repleto de factos interessantes da nossa história local. É numa linguagem acessível a todos os leitores que o Professor Manuel Afonso nos revela dados históricos da freguesia de Atães, centrando, também, muito do seu conteúdo na história mais recente da antiga freguesia, hoje inserida na União das Freguesias do Vade.
As curiosidades com que nos brinda são inúmeras, desde logo a relação que a Quinta do Paço teve com a família dos Abreus de Regalados, grandes senhores pertencentes à fidalguia e fortemente ligados à história da Vila do Pico e de Vila Verde.
Também foi interessante conhecer a origem de termos na freguesia de Atães duas comunidades paroquiais: S. José de Portela do Vade e S. João Evangelista de Atães. Estas paróquias, já separadas, continuaram a ser administradas pelo mesmo pároco até 1934, quando o Padre Abel José dos Santos Morais decidiu residir na paróquia da Portela do Vade, o que provocou o descontentamento das gentes de Atães, levando à separação definitiva da administração paroquial, continuando, até aos dias de hoje, inclusive, estas paróquias a terem párocos distintos.
Ler este livro permite-nos conhecer o longo e batalhado processo de adquirição e reconstrução da Capela de Santo Amaro que espelhou a resiliência de um conjunto de pessoas, nomeadamente o próprio autor, que lutaram por conseguir dar uma segunda vida a esta capela centenária, apesar das primeiras tentativas, infrutíferas, de adquirir a Capela, então privada, e o espaço envolvente.
Foi, também, curioso verificar que a génese da degradação da capela surgiu de um diferendo entre o Padre Samuel Silva Vieira e o, então proprietário, Dr. José Pereira de Macedo que, segundo documento apresentado no livro, não prestava contas à autoridade eclesiástica sobre as esmolas dispensadas pelos fiéis na Capela de Santo Amaro ao longo do ano, levando a que a capela fosse interdita ao culto em 1939, altura em que se começou a celebrar o Dia de Santo Amaro na Igreja Paroquial. Desde aí, a Capela ficou ao abandono. Lembro-me bem das ruínas da Capela de Santo Amaro, na altura num enorme estado de degradação, envolta por mato e pinheiros.
Se foi sob polémica que a Capela de Santo Amaro caiu no esquecimento, com a interdição ao culto na década de 30 do século passado, também foi sob polémica que a mesma Capela renasceu para uma nova vida, já em pleno século XXI, como nos fez questão de lembrar o autor do livro quando nos fala de “Uma obra que não foi inaugurada”. Felizmente, diz-se que “Deus escreve direito por linhas tortas” e a história desta Capela acabou por ter um final feliz, sendo, hoje, uma obra que merece ser apreciada e enche de orgulho todos os que amam o património histórico e religioso que os nossos antepassados nos deixaram em herança.
Resta, agora, que se organize uma Confraria para que registe em ata toda a sua história feita a partir de agora, registos que nunca existiram, zele pela sua manutenção, conserve a Romaria multissecular, requalifique o seu espaço exterior conforme está previsto e tantas outras melhorias que só uma dessas agremiações o poderá fazer.
Parabéns ao autor por tão rico e bem documentado livro sobre Atães e a sua história e parabéns a todos aqueles que trabalharam para dar corpo ao sonho e fazer renascer das ruínas esta Capela onde se venera Santo Amaro.