Artigo de Duarte Sousa, Membro da CPCJ designado pela Assembleia Municipal
É inegável que vivemos atualmente numa era digital, onde o constante avanço tecnológico nos permitiu conectar com o mundo e alterou por completo a forma como nos relacionamos uns com os outros. Por consequência, todos as áreas da sociedade foram influenciadas por este boom tecnológico, não tendo sido o Ensino exceção. Assim, de há uns tempos para cá ouvimos falar sobre a introdução, em Portugal, dos manuais digitais em substituição dos tradicionais manuais escolares.
Efetivamente, a desmaterialização progressiva dos manuais escolares está inserida no programa do Governo, estando prevista a aquisição, com fundos do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), de 600 mil computadores de uso individual para alunos e professores. Todavia, se há quem elogie esta aposta na modernidade, há também quem veja com muitas reticências a retirada do Ensino dos manuais escolares tradicionais. Se por um lado, como referi supra, vivemos num mundo cada vez mais digital onde o mercado de trabalho procura profissionais cada vez mais dotados com as novas tecnologias e onde o digital em substituição do papel traria benefícios ambientais, por outro temos que analisar se esta substituição será benéfica para a aprendizagem das nossas crianças e jovens. Tomando como exemplo os Estados Unidos da América, que há sensivelmente 8 anos atrás iniciaram este processo (e está agora a abandoná-lo), estudos feitos por centros de investigação e cientistas concluíram que o desenvolvimento cognitivo dos jovens que tiveram grande mergulho nas tecnologias digitais aos 11 anos está similar aquele que há 30 anos as crianças tinham com 8/9 anos de idade, havendo um aumento em 30% de doenças oftalmológicas, não obstante dos manuais digitais terem ficado mais caros em relação aos manuais tradicionais. Em Portugal, a introdução desta medida poderá levar a mais assimetrias entre as nossas crianças e jovens, visto que existem regiões do país onde a cobertura móvel e de internet é ainda muito fraca ou até inexistente, sem esquecer também que, infelizmente, muitas famílias portuguesas não têm possibilidade de pagar a uma operadora para usufruírem de internet em suas casas, ferramenta imprescindível caso avancem os manuais digitais, pelo que é primeiramente necessário assegurar o serviço de internet para todos.
Em suma, a questão que se coloca é a de que sim, devemos aproveitar as novas tecnologias, porém devemos fazer delas o centro do processo de aprendizagem? Se o ensino remoto durante a pandemia provocada pelo vírus da Covid-19 ajudou a acelerar esta ideia da introdução dos manuais digitais, a importância de folhear o manual físico, a possibilidade de nele fazer anotações pertinentes durante a aula e a exposição diária excessiva, a acontecer, que os nossos alunos terão com o computador são aspetos que não devem ser esquecidos nesta equação. A resposta, creio eu, terá que ser consertada sempre entre o Ministério da Educação, os professores e os alunos tendo sempre como objetivo a melhor qualidade de ensino possível para as crianças e jovens do nosso país!