No momento em celebramos a chegada do novo ano e de uma nova década constatamos que a popularidade dos partidos políticos continua pelas ruas da amargura. Os tempos de festa, de ilusão e de esperança vividos com o fim da ditadura deram lugar à frustração, ao desencanto e ao desânimo.
Para este estado de espírito muito têm contribuído os partidos e sua classe dirigente (que, quer a nível local, quer nacional, é essencialmente a mesma desde 1974) e que desde cedo foram substituindo as convicções pelas ambições. Essa ambição deixa para segundo plano os objectivos primários dos partidos obrigando-os a fazer constantes perversões e concessões ao seu ideário para alcançar o poder (que se tornou um fim). Uma vez no poder, os partidos voltam a adiar os seus ideários e caem numa nova tentação: a luta pela sua manutenção. Isto obriga-os a maiores e perniciosas concessões das convicções (quando ainda as há) gerando assim, sobretudo ao nível local, uma fauna política complexa que se serve do poder para se perpetuar nele criando uma “teia”que parece, muitas vezes, inquebrável!
Neste cenário os atores políticos vivem uns contra os outros num lamaçal onde não há lugar para as ideias nem para o debate sadio. Os políticos não se estimam, não se compreendem e na maioria das vezes nem sequer se escutam: limitam-se a esperar para falar…
É pois natural que aqueles que outrora alimentaram uma fé ilimitada na democracia se desiludam agora com o seu estado. As novas gerações, por sua vez, que não viveram sequer esses tempos de esperança, dedicam à política um profundo desinteresse.
Para inflamar o problema surgem, cada vez mais, os movimentos populistas, que florescem sempre que as democracias adoecem, agitando bandeiras insidiosas.
É, portanto, urgente cultivar o optimismo na democracia, evitando que o desânimo, a descrença e o desinteresse deixem a democracia ao abandono…
O primeiro passo terá de ser dado pelos próprios partidos que têm rapidamente de se reformular para superarem os efeitos nefastos da luta pelo poder – com a capacidade e a coragem de expurgar os métodos do cacique de uma geração de políticos descontinuada. Os partidos têm de encontrar o caminho que permita conjugar a luta pelo poder sem abandonar os seus princípios e convicções.
Por fim também os cidadãos terão de compreender que em democracia têm o dever de ocupar o seu lugar no sistema político que é, afinal, o lugar cimeiro e que não é compatível com o desinteresse ou a indiferença.