O Abade de Priscos, natural de Turiz, o Dom João de Aboim, de Aboim da Nóbrega e Sá de Miranda, o “Poeta do Neiva”, foram hoje lembrados, em Vila Verde, no I Colóquio “Vila Verde com Letras e…Sabores” que decorreu na Biblioteca Municipal Professor Machado Vilela.
Está presente, no evento, Mário Vilhena da Cunha, autor do livro “A Vida e as Receitas Inéditas do Abade de Priscos”, juntamento com Fortunato da Câmara. Mário Cunha é sobrinho-bisneto do Abade de Priscos.
O livro surgiu do desejo de «guardar tudo o que ficou» da herança culinária de Manuel Joaquim Machado Rebelo, o “Papa dos Cozinheiros”. «O pudim é muito conhecido, mas ele criou toda uma série de pratos», aponta Mário Cunha.
«Ele foi um inovador», descreve o sobrinho-bisneto. No livro, «as receitas estão tal e qual», na íntegra. Muitas são acompanhadas de fotografias, depois da esposa do autor as confecionar. No entanto, Mário Cunha confessa: «às vezes, a receita diz tudo, mas falta a intuição». «As pessoas pedem as receitas, eu dou, não posso é dar o meu paladar e as minhas mãos», vinca.
Mário Cunha é bisneto do irmão mais velho do Abade de Priscos e a sua avó viveu uma grande parte da vida com o mesmo. Ao ser colocado em Priscos, o abade precisaria, como costume na época, de uma “senhora da casa”. «Então pediu ao irmão mais velho que filha mais velha dele, a Maria Amélia que fosse com ele». No entanto, tinha 15 anos e sentia-se só.
«Pediu ao tio, o Abade de Priscos, e ao pai que a quarta irmã, fosse para lá», conta. «É a Teresa, a minha avó, que viveu lá cerca de 10 anos, antes de casar», aponta. A ligação do abade com estas duas sobrinhas foi tal que, nos últimos anos de vida, veio para casa de Teresa, avó de Mário Cunha, onde veio a falecer em 1930.
Natural de Turiz, o Abade de Priscos nasceu na Casa da Arca. Uma habitação «de cerca de 1200», recorda Mário Cunha. Na freguesia «fez os estudos primários, não sabemos se era com escola ou a contratar alguém para vir até casa», esclarece. Os estudos do Liceu foram em Braga, «hoje onde é o Sá de Miranda era o Colégio do Espírito Santo e tinha internato», acrescenta.
Era padre e “um bom padre”, reforça o bisneto. «Criou sempre associações e não era nada político», garante, fazia por gosto. No livro, Mário Cunha destaca uma frase da autoria do mesmo: «Realizei muitas coisas para todos os políticos, quer da Monarquia quer da República, sem qualquer coisa em troca».
Mas não se ficava pela cozinha e pela religião. «Ele fez estudos judiciais e só aos 20 anos é que foi para o seminário, enquanto na altura se ia para padre muito jovem», aponta Mário Cunha. «Ele ainda pensava ir para Paris estudar Belas Artes», revela, pelo que juntou muitos interesses. «Bordava ouro, a minha mãe e tia aprenderam com ele, fotografia também, mandou vir uma máquina de França» enumera. «O grande talento era a culinária», reforça, mas há muito para conhecer, garante.
Dia dedicado a Abade de Priscos, Dom João de Aboim e Sá de Miranda
Estão três nomes incontornáveis da história vilaverdense a ser hoje celebrados. A manhã foi tomada por três apresentações: além de Mário Cunha a falar de Abade de Priscos, esteve José Valle de Figueiredo a partilhar conhecimento sobre Dom João e Maria Adelina Vieira a trazer a história de Sá de Miranda.
O dia incluiu, ainda, um almoço temático com receitas do Abade e uma visita ao seu túmulo, em Turiz, da parte da tarde, para uma homenagem.
Em abertura, Júlia Fernandes destacou a grandeza «destes vilaverdenses», falando num «gene» comum a todos e que «continua a inspirar e criar grandes talentos». É importante manter estes legados vivos, porque «o que não conhecemos, não preservamos».
António Cunha, presidente da CCDR-N, destacou o Norte como «a região mais industrializada e exportadora do país» que «deve contar as suas histórias» pelo «valor e autenticidade».
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