Na Breve História de Quase Tudo, Bill Bryson põe-nos a imaginar a história de 4500 milhões de anos do nosso planeta, comprimidos num dia normal de 24 horas. Nesse resumo de toda a existência da Terra, a vida surge de madrugada, por volta das 4 horas da manhã, os dinossauros aparecem apenas pouco antes das 23 horas, desaparecendo 21 minutos antes da meia-noite na extinção em massa que os dizimou da face da Terra há 65 milhões de anos. Entretanto, a faltar 1 minuto e 17 segundos para a meia-noite, surgem os seres humanos. De facto, nesta analogia, percebemos que andamos por cá há muito pouco tempo.
Apesar desta curta existência, o ser humano tem sido responsável por inúmeras disrupções no nosso meio ambiente, tendo um enorme impacto nos ecossistemas um pouco por todo o lado. Isso mesmo é retratado com bastante sucesso na série Our Planet, disponível na Netflix, que aconselho. Com a narração de David Attenborough, esta produção da BBC alerta-nos para os efeitos pesados da mão humana nas alterações climáticas, na vida animal e em todos os organismos vivos. Na série, percebemos o quão belo é o mundo natural e o quanto o afetamos, mesmo nas zonas mais inóspitas do globo.
O impacto que o homem tem sobre todos os ecossistemas é algo que nos deve preocupar e, por isso, as questões ambientais têm de estar na ordem do dia. A sociedade pede essa atenção e, por isso, já não há partido nenhum que não coloque o ambientalismo no centro dos seus conteúdos programáticos. Ao longo de muitos anos a direita talvez se tenha demarcado destas questões dando palco aos partidos de esquerda para tomarem a dianteira neste tema que é transversal e, portanto, devia ser uma preocupação de todos. E a esquerda, sobretudo a mais radical, serviu-se das questões do ambientalismo como mote para “malhar” na iniciativa privada, na economia de mercado e no capitalismo, aproveitando para impor a sua agenda, por todos já conhecida. Recentemente, os cartazes empunhados pelos ativistas que ocuparam vários estabelecimentos de ensino em Lisboa na defesa do ambiente, confundiam-se com outras mensagens a pugnar pelo “Fim do Capitalismo” ou que sonhavam “Enterrar o capitalismo” como se o bicho papão do capitalismo fosse o problema e não parte da solução. É preciso lembrar, a título de exemplo, que na União Soviética consumia-se 50% mais recursos e mais do dobro da energia que as fábricas dos países ocidentais para produzir o mesmo, precisamente porque não conheciam o que era a livre concorrência, própria dos países democráticos e capitalistas, com mercados livres e sem as amarras do controlo estatal. Não quero com isto dizer que os sistemas assentes no capitalismo e no mercado livre só tenham virtudes e estejam imunes a perversões ou que não tenham a sua quota-parte de responsabilidade no contexto das alterações climáticas. Porém, sabemos que é neste background que têm surgido inovações em matéria de tecnologia verde e mais amiga do ambiente e, por isso, considero que é por aqui que encontramos parte da solução e não a fonte exclusiva do problema. É num sistema de mercados livres e concorrenciais que as empresas procuram a inovação e a eficiência, com impactos no consumo de energia e de recursos naturais. Não acho que a solução seja viajar de veleiro entre Londres e Nova Iorque como fez Greta Thunberg. A curva de Kuznets Ambiental diz-nos que à medida que os países crescem economicamente, os danos no ambiente aumentam, porém, a partir de determinado momento, a melhoria dos rendimentos, traduz-se em melhorias para o meio ambiente. Por isso, não embarco pela narrativa que pugna pelo fim do capitalismo e que nos exige uma involução nos nossos modos de vida e nos conduz ao decrescimento pois isso seria dar passos atrás.