OPINIÃO

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Aprender a lidar com a febre na criança

Texto de Luís Sousa (médico)

A febre é dos sinais mais comummente encontrados na nossa prática clínica, sendo um dos principais motivos de recursos às consultas em contexto de doença aguda. Corresponde a 25% dos motivos de consulta não programada em crianças abaixo dos 3 anos.

A febre não é, por si só, uma doença. Trata-se de uma manifestação do nosso organismo no decurso do combate às infeções, sendo um mecanismo de defesa do nosso corpo neste contexto. É, portanto, benéfica, pois sabe-se que vários processos fisiopatológicos envolvidos no combate à infeção têm maior atividade a uma temperatura acima do normal.

Mas a partir de que valor podemos dizer que alguém tem febre? Esta é uma definição que, apesar de objetiva, surge associada a alguma confusão e discrepâncias, mesmo em fontes de informação ligadas à saúde. Antes de tudo importa dizer que para se saber se a criança tem febre não basta colocar-lhe a mão na testa. É importante objetivar com a utilização de um termómetro. Considera-se que há febre se a temperatura corporal subir pelo menos 1 ºC em relação à média da temperatura basal diária individual.

No entanto, este valor é, geralmente, desconhecido da maioria das pessoas pelo que se utiliza o critério da temperatura axilar igual ou acima de 37,6 ºC (ou da temperatura retal igual ou superior a 38 ºC) como os valores-limite para definirmos a existência de febre. Importa ressalvar que existem outras formas de medir a temperatura corporal como por via timpânica ou oral, cada uma com valores diferentes consoante a forma e local de medição.

A febre, por si só, não traduz a presença de doença grave, porém, há sinais que nos devem alertar para situações potencialmente mais graves que carecem de avaliação médica mais urgente como a sonolência excessiva; olhar de sofrimento; irritabilidade ou gemido mantido; choro inconsolável; recusa alimentar completa superior a 12h; sede insaciável; febre com duração superior a 5 dias completos, entre outros.

Perante uma criança com febre devem oferecer-se líquidos como água ou leite; utilizar vestuário adequado, não sobreaquecendo; respeitar o apetite. Na fase da subida da febre o arrefecimento (com banho, compressa húmidas ou ventoinhas) está desaconselhado, pois não contribuiu para o controlo da doença nem para o bem-estar da criança. Se a criança está desconfortável deve tomar um antipirético, como o paracetamol na dose adequada ao peso/idade. O antipirético é eficaz se baixar a temperatura entre 1 a 1,5 ºC, dentro de 2 a 3 horas. O objetivo do antipirético é aliviar o desconforto da criança e não eliminar a febre a todo o custo.

Aproveito para referir que não são verdades algumas ideias, comummente vigentes na população em geral, como a de que a erupção dentária num latente pode ocasionar febre ou de que a presença de febre elevada se correlaciona com o risco de convulsões febris.

A Sociedade de Infeciologia Pediátrica disponibiliza na sua página na Internet um folheto informativo da autoria da DGS que serviu de base à redação deste meu artigo que julgo importante partilhar e cuja leitura recomendo vivamente a todos os pais e cuidadores: https://www.sip-spp.pt/media/rkejjil4/febre-folheto-informativo-para-pais-e-cuidadores-2018-dgs.pdf

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