A arquidiocese de Braga publicou esta segunda-feira um documento que “oferece uma reflexão pastoral e orientações concretas” para que as festas religiosas “recuperem e mantenham o seu verdadeiro sentido cristão, evitando a sua banalização ou desvios de finalidade”.
“As festas religiosas ocupam um lugar de destaque na vivência comunitária da fé cristã, especialmente no contexto das paróquias e tradições locais. Contudo, a sua celebração, marcada por profundas raízes culturais e sociais, tem enfrentado alguns desafios perante as transformações da sociedade contemporânea”, refere a arquidiocese.
O organismo religioso sublinha que, “ao articular tradição e renovação, interioridade espiritual e expressão comunitária”, devem ser promovidas “celebrações que sejam, simultaneamente, momentos de evangelização, encontro fraterno e autêntica alegria cristã”.
“É neste sentido que convidamos as comunidades a refletirem sobre os programas das festas religiosas. As comissões deveriam sentir-se na obrigação de organizar um programa diferente das festas profanas. Há um vasto leque de opções que podem proporcionar muita festa exterior sem distrair ou fazer esquecer o essencial duma festa cristã”, pode ler-se no texto.
O documento, disponibilizado no site da arquidiocese de Braga, assinala que atualmente “a formação na fé e o seu desejo quase desapareceram” e que “os apelos à conversão raramente se fazem ouvir”.
“A festa “religiosa”, em vários lugares, propriamente já não se faz em honra do santo. O santo é um mero pretexto. Por vezes, as comissões servem-se do santo, do seu nome, da sua capela e da sua imagem para sensibilizarem o povo na busca de donativos, para fazerem a sua própria festa, tantas vezes para satisfazer vaidades ou afirmações de poder pessoais ou de grupo”, assinala.
Por isso, o organismo religioso entende que, “nestas circunstâncias, muitas das festas já não são espaço de enriquecimento cultural e espiritual”. “Se ainda mantêm uma componente cultural e recreativa, esta reveste-se, por vezes, de um carácter demasiado pagão. Não raro, em vez de lugar de encontro alegre e feliz, tornam-se causa de conflitos que ferem e deixam marcas negativas difíceis de sanar”, acrescenta.
NECESSIDADE DE REFLETIR
Segundo a arquidiocese de Braga, “cada paróquia, nas suas várias instâncias de participação e corresponsabilidade, dever-se-á sentir na necessidade de refletir, com sentido crítico e em esforço pedagógico, sobre as festas religiosas que promove, o que haverá nelas de menos bom ou abusivo, por que é que isso acontece e como proceder para que se conformem com o verdadeiro sentido cristão, a solidariedade social, a diversão sadia e a promoção cultural da comunidade”.
“Se as festas são religiosas, é evidente que devem ser promovidas por pessoas que tenham a vivência da fé, o sentido de Igreja, a estima do povo e a disposição de cumprirem as normas sobre as festas religiosas. Porque nem sempre assim acontece, muitas festas – mercê de comissões bem intencionadas, por certo, mas pouco esclarecidas na sua fé e nada firmes nos valores a defender – foram envolvidas por este processo de transformação e afastadas dos seus verdadeiros objetivos. Tais desvios, umas vezes têm gerado tensão entre comissões de festas e estruturas paroquiais; outras vezes são causadores de divisões na comunidade, de guerrilhas permanentes e até de escândalos que a ninguém deixam ficar bem e logo são explorados por quem gosta de tirar partido da fraqueza alheia”, assinala.
Recordando a nota pastoral sobre festas religiosas, publicada em 28 de janeiro de 1988, a arquidiocese de Braga lembra que “as comissões promotoras devem ser formadas por cristãos convictos, que deem garantias do cumprimento das normas da Igreja e do desejo de trabalharem de harmonia com o pároco e seus órgãos colegiais”.
Cabe ao pároco a responsabilidade de nomear as comissões de festas, “depois de ouvir as instâncias de corresponsabilidade paroquial, nomeadamente o Conselho Económico e, se existir, o Conselho Pastoral”. “Não faz sentido, pois, que a comissão cessante apresente ao pároco, no dia da festa e sem estes passos prévios, a nova comissão de festas para ser lida e nomeada no fim da eucaristia ou do serviço religioso. Tudo deve ser previamente combinado, em bom espírito de entendimento e comunhão eclesial”.
“EVITE-SE O ESBANJAMENTO DE VERBAS”
Já a programação de qualquer festa religiosa, “seja na Igreja paroquial seja numa capela ou santuário, promovida quer por uma comissão ou mordomia, quer por uma confraria ou irmandade, deve ser feita em comunhão com o pároco que, como primeiro e principal responsável por qualquer festa religiosa, deve ser sempre o elo de unidade e comunhão”.
“Evite-se o esbanjamento de verbas em programas festivos com número exagerado de conjuntos, bandas, etc. tantas vezes em duplicado e amontoados, sem grande espaço no local e tempo para atuarem. Convidar por bairrismo, espírito de vaidade e de competição e porque se tem dinheiro não deve ser o critério a utilizar”, refere o documento.
A arquidiocese de Braga diz ainda que “satisfazer, com a programação feita, uma só camada etária da comunidade esquecendo a maioria do povo; gastar irresponsavelmente em festas estrondosas as esmolas dos fiéis, quando se sente a falta do mínimo de estruturas para um trabalho pastoral eficiente, ou há carências notórias nas populações; esquecer o espírito cristão e as dificuldades económicas gerais em que se vive, não é bom nem justo”.