OPINIÃO –

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Até para o ano, se Deus quiser

Autor: Luís Sousa

Os períodos do Natal e de final do ano trazem com eles a oportunidade de refletirmos um pouco sobre o nosso papel no meio em que vivemos, tentando, cada um de nós, na medida do possível e da nossa vontade, imprimir uma dinâmica mais proativa na construção de uma sociedade melhor. Na generalidade, nesta quadra curta, fazemos mais pelo próximo do que nos restantes longos meses do ano, lembrando-nos de ser mais generosos para com os que nos rodeiam e pensando um pouco mais naqueles que precisam.

Estes finais de dezembro são, de facto, lufadas de ar fresco na sociedade tão quezilenta em que vivemos. São balões de oxigénio que nos fazem bem, apesar de tardios no ano que finda. Mas, se deixar tudo para a última não fosse um hábito tão português, eu seria o primeiro a estranhar o porquê de muitos de nós reservarmos apenas estes finais de ano para nos lembramos dos nossos amigos ou os nossos familiares. Diria que, imbuídos por um espírito Natalício, tentamos ser, por esta altura, um pouco melhores do que aquilo que efetivamente demonstramos ser no resto do ano. E, por tudo isto, vem-me à memória o tão famigerado chavão natalício que nos diz:  – Natal deveria ser todos os dias!

Felizmente, o Natal, sendo uma celebração com raízes e fundamentos marcadamente Cristãos, tem o condão de incluir e não excluir, havendo espaço para os que o vivem focados em Deus e para aqueles que, sendo ateus ou professando outros credos, partilham e comungam de um modo próprio os mesmos valores cristãos. Esta capacidade de acolhimento, a que a Igreja dá o exemplo, não é, de todo, lamentavelmente, refletida na forma como determinados setores da sociedade se indignam perante vivências de fé que outros manifestam. Por que razão tanto espanto e indignação com a expressão «Até amanhã, se Deus quiser» que uma pivô da estação pública utilizou para se despedir dos telespectadores? Não sei se esta expressão, tão enraizada na nossa cultura, foi proferida pela jornalista, com sentido religioso ou não, mas, independentemente disso, tem critérios para se encaixar naquilo a que chamamos de insulto?! Ofende, exclui, discrimina?! Temos mesmo que viver num mundo de pessoas «tábuas rasas» onde manifestar crenças, valores, fé, assumirmos um ideal que é nosso, e apenas nosso, pode ser entendido como fator de exclusão do outro ou discriminação do próximo?

Espanta-me esta nova moral vigente, que nem provérbios com animais nos quer deixar usar, levando ao extremo do irracional o politicamente correto. Vive-se, hoje, numa sociedade estrangulada pela intolerância, onde o que é tolerável se encaixa num espaço cada vez mais confinado e onde uma nova moral se quer impor àquilo que são os nossos valores tradicionais, culturais, civilizacionais e históricos. A forma como opiniões contrárias são trucidadas no espaço público amordaçam e ensombram qualquer ensejo de liberdade que sonhamos ter para o século XXI. Por isso, vemos redes sociais pejadas de insultos e maledicência, como se a boa educação ficasse algures perdida no meio da rede, nesse mundo infinito do world wide web. Como é fácil deixar cair os filtros da boa educação perante um teclado, no mundo virtual, quando nos deparamos com uma opinião diferente da nossa!

E por aqui me fico. Porque, hoje, à hora a que escrevo, ainda é dezembro, despeço-me com um até para o ano, se Deus quiser.

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