Um agente da PSP está entre as seis pessoas que foram detidas, esta terça-feira, pela Polícia Judiciária (PJ), que conseguiu desmantelar uma milícia armada de extrema-direita. Esta foi a maior operação de sempre do género em Portugal.
“Não deixou de ser surpreendente a qualidade e a diversidade daquilo que apreendemos”, afirmou Manuela Santos, diretora da Unidade Nacional de Contra-Terrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária, em conferência de imprensa de balanço da operação “Desarme 3D”, que levou à detenção de seis pessoas do Movimento Armilar Lusitano (MAL).
“Foi surpreendente” encontrar no grupo esta “capacidade de fazer algo com alguma projeção, com os meios de que dispunham”, acrescentou a dirigente da PJ.
“Estavam a armar-se, a recrutar pessoas e a desenvolver ações”, afirmou Manuela Santos, salientando que o material apreendido “tem uma origem e está tudo em aberto nesse aspeto”, com “novas linhas de investigação”.
A responsável não descartou haver “elementos de forças de segurança e forças militares” envolvidos no grupo.
Entre os seis detidos, um deles era um elemento da PSP, existindo outros tinham ligações a grupos de segurança privados.
No âmbito da operação “Desarme 3D” foram apreendidos material explosivo de vários tipos, de várias armas de fogo, algumas das quais produzidas através de tecnologia 3D, várias impressoras 3D, várias dezenas de munições, várias armas brancas, material informático, entre outros elementos de prova.
O grupo mais alargado inclui elementos que “pertenciam a antigas estruturas de extrema-direita que deixaram de existir”, como a Nova Ordem Social, fundada pelo neonazi Mário Machado.
Num vídeo distribuído pela PJ estavam livros neonazis, propaganda e impressoras 3D que serviam para fazer armas ou adulterar armas de ‘airsoft’ de modo a que disparassem munições letais.
“O enquadramento legal deste material é abrangido pela lei das armas”, explicou Manuela Santos.
As buscas realizaram-se na Grande Lisboa e as autoridades acompanharam encontros presenciais, numa investigação que teve início em 2021.
“Não é fácil [investigar], porque é um meio difícil de penetrar. Este tipo de indivíduos está muito alerta” para a ação das autoridades.
Quanto à classificação do grupo, Manuela Santos considerou que o MAL está enquadrado “na lei de combate ao terrorismo” e na “alteração violenta do estado de Direito”.
“Não havia para já um plano concreto” para “desencadear uma ação criminosa”, explicou a coordenadora da UNCT, mas salientou que o objetivo era “atentar contra as instituições”, na linha do que fazem, no plano internacional, outros grupos do género.
A dirigente da PJ recordou a mega-operação das autoridades alemãs que em 2022 desmantelou um grupo que tentava realizar um golpe de Estado. “São pessoas de muitas proveniências”, unidas pela “discriminação em função da identidade de género, da raça, do credo”.
A pandemia acentuou a atividade do MAL, como noutros “grupos antissistema” referenciados, admitiu Manuela Santas, salientando que “tudo acaba por ser um argumento para contrariar o sistema vigente”.
Seis suspeitos de integrar o denominado MAL foram detidos por infrações relacionadas com grupo e atividades terroristas, discriminação e incitamento ao ódio e à violência e detenção de arma proibida.
Os seis detidos serão esta terça-feira presentes a tribunal para primeiro interrogatório judicial.