Artigo de Adelino Machado
O PCP continua firme na sua decisão de realizar a Festa do Avante no próximo mês de setembro, prevendo juntar milhares de pessoas num parque no Seixal.
Contrariando as orientações que têm sido dadas aos Portugueses no sentido de evitarem concentrações de pessoas e se absterem de uma vida social nos padrões a que sempre estiveram habituados e, negligenciando por completo, todo o esforço que tem sido feito para travar a pandemia da COVID-19, com prejuízos muito graves para a saúde e finanças de muitas famílias, eis que um determinado partido político – não importa qual a sua tendência – se prepara para, ao arrepio da opinião pública em geral e até mesmo de algumas (poucas) restrições até agora emitidas pela Direção Geral de Saúde, avançar com a dita iniciativa, não se coibindo de atacar todos quantos expressam o seu direito de opinião contrária à sua.
Não deixa de ser uma triste ironia que poucos meses após o Estado de Emergência que ditou o confinamento obrigatório e conduziu inevitavelmente ao encerramento do tecido produtivo e à paralisação da economia portuguesa, se abra a perspetiva de realização desta Festa “em nome dos trabalhadores”. Jerónimo de Sousa e o seu Comité têm, de facto, de apelar muito à sua imaginação e serem, como o próprio disse, “muito criativos” para conseguirem justificar o injustificável.
Enquanto isso, usando o Avante como moeda de troca numa pura negociata política, o Primeiro-Ministro António Costa e o seu Governo aprisionados no pensamento e na ação, têm procurado passar entre os ‘pingos da chuva’, evitando comentar o assunto e atirando a responsabilidade para as autoridades de saúde, na esperança de que estas consigam, sob o manto da tecnocracia, encontrar espaço para que a mesma se possa concretizar sem causar danos políticos e de modo a que toda a gente fique bem. Não vá esta Festa do Avante azedar as relações com o PCP e estragar o ambiente para a aprovação do Orçamento que aí vem.
Tudo caminhava bem, até que o simpático e afetuoso Presidente Marcelo, perante a pressão cada vez mais audível da opinião pública, se viu na inevitabilidade de solicitar à Direção Geral da Saúde a publicitação das condições técnicas sobre o evento.
E esta mesma DGS, pressionada, lá vem dizer que, afinal, não deverão ser as 33 mil pessoas, mas cerca de 17 mil e pouco mais do que isso.
E António Costa, para não ser um simples Pilatos, sempre vem dizer que afinal nada pode parar a atividade política. Nada mesmo. Nem mesmo uma Pandemia. E Estado de Contingência só depois do Avante!
Perante esta irresponsabilidade e esta vergonha a que se expuseram os nossos dirigentes políticos, são os Cidadãos quem demonstra lucidez e quem dá o exemplo, ao procurarem distanciar-se deste evento, fechando negócios e residências naquela localidade, sob a ameaça que paira sobre a saúde pública.
Mas este tema da Festa do Avante tem pelo menos uma virtude: a de mostrar a todos, mesmo aos menos atentos, a face de instituições ditas democráticas e a forma titubeante e manipuladora como lidam com os seus cidadãos. Ficamos a saber que um partido político tem legitimidade para fazer uma festa de milhares de pessoas e que um casamento não pode ter mais de meia centena ou que uma festa popular com uma centena de anos não pode tão pouco realizar-se.
Afinal, os cidadãos não são todos iguais perante a lei.
Num Estado de direito verdadeiramente democrático a realização desta Festa do Avante é uma irresponsabilidade pela ameaça à saúde e ordem públicas e constitui uma afronta à inteligência dos Portugueses.
A Pandemia continua aí e todos os dias morrem pessoas e há novos infetados.
Há grandes eventos cancelados, restaurantes, negócios e outros espaços fechados e muitos milhares de pessoas sofrem diariamente com isso.
Estes Portugueses merecem Respeito!
Avante Camaradas!