Cerca de quatro centenas desfilaram este sábado pelo centro de Braga, juntando-se às dezenas de milhares que marcharam por mais de uma vintena de cidades, entre elas Guimarães, por ‘Casa para viver, Planeta para habitar’.
Curiosamente, em Braga, os manifestantes, convocados por perto de 30 organizações, algumas de Famalicão e Barcelos, reunidas numa plataforma, atravessaram a avenida Central indiferentes aos ‘cubos’ do fotógrafo sul-africano Gideon Mendel ‘Drowing World’ (‘Mundo afogado’, em tradução literal) ali patente, que mostram precisamente o impacto das alterações climáticas em populações por todo o mundo.
Rafael, 8 anos, acompanha o avô. “Vim para o ajudar a salvar as árvores”, explica a criança. Apesar do calor, o avô, Mário, fez questão de marcar presença em protesto contra a “indiferença climática”. “Quero deixar um mundo limpo para o meu neto”
José Gonçalo, 34 anos, é uma voz dissonante no meio da unanimidade em torno dos temas da ‘manif’ – habitação e clima.
“Quem anda desesperado à procura de casa para arrendar dentro das suas posses como eu ando, não tem cabeça para vir para a rua protestar pelo clima”, diz. Apesar da critica à organização, estava na concentração, junto ao coreto, onde se ouvia a música de Zeca Afonso.
Entre as muitas histórias que os manifestantes partilhavam entre si sobre a especulação imobiliária, a de Romão Costa destaca-se. O motorista deixou em Braga um apartamento T pelo qual pagava 350 euros e no regresso à cidade, um ano depois, encontrou o mesmo apartamento no mercado de arrendamento por 700 euros.
“Devia haver uma lei que impedisse um aumento de 100% nas rendas só num ano”, afirma. Partilha um T2, mobilado, com mais dois colegas. Pagam 670 euros, “mais condomínio”.
Eugénia e Márcia, ambas de 18 anos e de Braga, acusam “o Governo, as petrolíferas e os bancos de andarem a brincar com a sociedade, com todos nós”.
“Andam a matar a qualidade de vida das nossas famílias e a matar o nosso futuro”, aponta Márcia. “O que nós pedimos é uma casa acessível e um futuro saudável”, resume Eugénia.
EXIGÊNCIAS
“Corrigir” a política de habitação, o fim dos despejos e das demolições “sem alternativa de habitação digna”, estão entre as “medidas urgentes” que a plataforma ‘Casa para viver, Planeta para habitar’ reivindica.
A estas juntam-se a “regulação eficaz do mercado”, através da descida das rendas, a renovação automática dos actuais contratos de arrendamento e a fixação do valor das prestações dos créditos para primeira habitação.
Baixar as rendas e fixar os valores, indexando aos rendimentos dos agregados familiares, nunca excedendo os 20% é outra medida do manifesto que circulou pelos manifestantes.
A plataforma reclama ainda a “revisão imediata das licenças para especulação turística” e o “fim real” dos vistos gold, do estatuto de residente não habitual, dos incentivos para nómadas digitais e das isenções fiscais para o imobiliário de luxo e para empresas e fundos de investimento.
No que se refere ao ambiente, o manifesto pugna por transportes públicos gratuitos para todos e adoptar a “energia renovável descentralizada, baseada na comunidade e controlada democraticamente, para atingir os 100% de electricidade renovável até 2025”.
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