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Braga sai à rua para protestar contra o racismo e acaba com o mito não racista desfeito

Um milhar de pessoas concentrou-se este sábado na avenida Central de Braga para protestar contra o racismo e manifestar a sua solidariedade com aqueles que exigem o fim da violação dos direitos cívicos da população afro-americana nos Estados Unidos, que no passado dia 25 culminou com o assassinato de George Floyd. E acabou por ver o mito de um Portugal anti-racista desfeito.

Foi olhos nos olhos deste milhar de manifestante (número da PSP) que um imigrante brasileiro, pai, pôs o ponto nos iis.

“Vocês sabem o que é ter que explicar a um filho, preto como eu, que deve levantar os braços bem alto se for abordado por agentes policiais?”, começou por perguntar a uma assembleia formada sobretudo por jovens.

“Sabem o que acontece se eu for apresentar queixa à policia por ter sido vítima de racismo? Vocês sabem o que ouve um imigrante estrangeiro preto, esteja legal ou à espera da regularização da sua situação em Portugal, se for a uma esquadra apresentar queixa?”, continuou a questionar.

“O que ouve é “vai para a tua terra, preto””, respondeu, agora visivelmente nervoso porque sentia “na pele o que digo”.

“Esta Terra é de todos nós. É vossa e minha. Esta Terra é de todos”, proclamou então, entre aplausos vigorosos.

“O que eu gostaria de ver não são só protestos convocados pelo Facebook ou por uma qualquer hashtag. O que eu gostaria de ver era cada um de vocês denunciar actos de racismo”, atirou.

“E quantos de vocês que aqui estão, já o fizeram? Quantos? Quantos?”, concluiu, com mais perguntas. Desta vez, os aplausos foram fracos, incomodados.

Outro imigrante, também de origem africana, tomou conta do microfone, aberto para quem quisesse dar o seu testemunho no âmbito do protesto ‘Vidas Negras Importam’. E também ele põe o ponto nos iis.

“Se perguntar a todos os que aqui estão se são racistas, responderiam que “não, mas…”, começou por dizer, depois de ter perguntado: “Sabem quanto custa a um imigrante por na mesa comida para os filhos?”.

“Esse “mas” é o racismo a falar. Esse “mas” é racista”, responde.

“Portugal é um país de “mas”. É um mito dizer que Portugal não é um país racista. É um país racista”, exclamou, sublinhando que o “racismo mesmo que velado é também racismo”.

Já antes, uma das organizadoras do protesto – na sua maioria activistas com ligações ao activismo estudantil – tinha dito que um Portugal não racista “é um mito”, enumerando alguns dos casos de agressões a cidadãos de origem africana no nosso país.

 Foram, todavia, os testemunhos dos dois imigrantes que marcaram a concentração, emudecendo o slogan do segundo protesto ‘Resgatar o futuro – não lucro’, que exigia um mais forte apoio do Estado a todos os que são vítimas da crise económica causada pela pandemia da covid-19, nomeadamente do sector da cultura, dos trabalhadores precários, a recibo verde, no desemprego e em lay-off.

Apesar dos apelos da organização –assinada por várias colectivos e associações- nem sempre o distanciamento social foi respeitado, apesar de quase todos, dos mais novos aos mais velho, usarem máscara de protecção.

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