Apesar da chuva, a noite de sexta-feira é marcada pela Festa do “Caurdo”. E, como todos os anos, a população não falha. Centenas juntaram-se na tenda colocada esta tarde e aqueceram-se com 17 sabores diferentes.
São uma viagem no tempo em tigelas. Todos com cerca de 100L, há muito sabor por onde escolher. A ATAHCA traz “Caurdo” Colheita da Horta, o Grupo Folclórico Infantil e Juvenil São Tiago de Atiães apresenta “Caurdo” de Rabo de Boi e o Rancho Folclórico de Prado São Miguel preparou “Caurdo de Farinha”.
Ainda, Cabanelas apresenta “Caurdo” de Malhadas e Marrancos traz o clássico “Caurdo” de castanhas. Da União de Tradições chega o “Caurdo de Feijão Miúdo” e de Pedregais há “Caurdo” de Nabos.
De Cervães chega o “Caurdo” Lavrador, da Casa do Povo de Vila de Prado chega o “Caurdo “ de Penca e, com o “Caurdo” de Toucinho, está Valdreu.
Em Parada de Gatim cozinhou-se “Caurdo” de Nabiças, do Rancho Folclórico de Vila de Prado, o “Caurdo” de Feijão Verde e de Turiz o “Caurdo” de Jerimu.
A terminar, o “Caurdo” das Vindimas chega do Pico de Regalados, o “Caurdo” Conduto de São Martinho de Moure, o “Caurdo” de Desfolhadas de Aboim da Nóbrega e o “Caurdo” d’Avó de Atiães.
A acompanhar, ao receber a louça, todos tiveram direito a um pedaço de broa. Para bebida, havia água e sumos, bem como vinho.
Manuel Araújo, da organização, esteve sempre otimista. “Vemos aqui a azáfama, esta festa tem sempre um pouco confusão e, este ano, o tempo não deixou fazer melhor», afirma. São 2 000 litros de “Caurdo”, aponta.
Neste jantar tradicional, estiveram presentes a presidente de Câmara Júlia Fernandes, bem como o vereador Manuel Lopes. Para o vereador, estes sabores são familiares. «Gosto disto, isto de facto, está nas nossas raízes», aponta. «Recordo-me do caldo do pote, das panelas ao lume, existia sempre, particularmente à noite, até porque éramos uma família muito numerosa com 11 filhos», recorda.
Júlia Fernandes concorda. Garantidamente, vai provar um pouco de todos. «Por isso faço um pouco de batota, peço só um pouco de cada um», brinca. «Está aqui uma excelente organização e as pessoas não tiveram medo à chuva e vieram», diz. «Isto são os saberes e os sabores», termina.
CAURDOS EM PREPARO DURANTE TODA A TARDE
Bastava uma conversa rápida com todos para perceber: há muito «caurdo» e muito trabalho. Todas as associações e organizações apuraram as suas sopas durante toda a tarde.
Fernanda Rodrigues, de Aboim da Nóbrega, explica o que tem no seu caldo. «Este caldo é feito com o que semeamos na terra, por isso o nome, então há batata, cabaça, cebola e juntamos tudo aqui, era o caldo que se servia antigamente nos trabalhos do campo», diz.
O de Atiães, segundo Fernanda Fernandes, leva «feijão, batata e carne, tudo junto». Lurdes da Quina, como é conhecida em Moure, descreve o seu: «muito feijão, couves, arroz e farinha». «É recuar à tradição»!
De Cervães, Teresa Macedo recorda este caldo da sua infância. «Já estamos aqui desde as 14h, leva muito feijão, tem de apurar, com batata e couve», diz. «É como se fazia antigamente. A minha avó era de uma casa abastada e o que íamos comer era isto. E nós éramos todos gordinhos! Não se passava fome, tínhamos saúde e éramos felizes», aponta.
Vindo de Marrancos, o caldo de castanhas tem «sempre muita fila», diz _. «Muitas horas a preparar este caldo, com castanhas que são da nossa terra», acrescenta. «Leva castanha, cenoura, batata e o estrugido», descreve. Luísa _, servindo de uma panela quase vazia, diz: «está aqui outra, preparamos 100L.
POPULAÇÃO SATISFEITA
Carlos Macedo, de Cervães elogiou os caldos que provou. «Estão maravilhosos. O que me leva cá é a tradição, é a festa do povo. Recordo-me de comer este tipo de sopas antigamente. A sopa é o melhor alimento», afirma.
José Silva , da Lage, também se mostrou contente com o seu jantar. Quando o encontramos, ia já no segundo. «Foi a minha mulher agora buscar o segundo, primeiro comi o de lavrador, agora é o de rabo de boi», aponta.
Pela noite fora, demorou até que todas as panelas ficassem vazias.
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