A comunidade de Cervães, em Vila Verde, juntou-se, nesta tarde de domingo, no Centro Social e Paroquial, em redor dos saberes das gerações mais antigas.
Recuando ao tempo dos avós, meterem-se as mãos na massa e, por entre farinha amassada e fornos em brasa, transmitiu-se às gerações mais novas, como se prepara e se faz a cozedura do pão, de forma ancestral, em fornos a lenha e com a experiência adquirida ao longo de décadas.
Teresa “da Bouça”, 77 anos de idade, a viver há 54 anos em Cervães, é uma das mulheres empenhadas em mostrar aos mais novos como tudo se processa. Enquanto trabalhava, ia explicando à nossa reportagem como se faz o pão.
“Peneira-se a farinha, amassa-se na masseira, junta-se-lhe a farinha mãe (o fermento feito de véspera) e, neste caso, com cerca de 60 quilos de farinha, fica a levedar pelo menos durante uma hora e meia”, explicou.
Antes de fechar a masseira, Teresa faz, com o dedo indicador, uma cruz sobre a massa, enquanto, seguindo os costumes de outrora, vai orando:
“Dentro do forno e fora do forno,
nós a comer e tu a crescer.
Com o poder de Deus
Tudo pode fazer”.
Depois, continuava a explicar: “Quando a massa começar a abrir, está pronta para ir ao forno”. Ou seja, está na hora de dar forma às broas e/ou aos bolos, introduzindo a massa na gamela de madeira.
Após isso, no caso dos bolos, é só acrescentar pedacinhos de carne (barriga de porco), levar ao forno e, passados 10 minutos, estão prontos a degustar.
Após o serviço concluído, provou-se aquela iguaria tradicional, recheada com saberes de mãos calejadas e com sabores de tempos passados, os quais os cervanenses querem manter vivos e passar para gerações vindouras.
Também com a cultura do passado e conhecedor e representante dos usos e costumes da localidade, o Grupo Folclórico de Cervães uniu-se a toda a comunidade, ajudando a animar aquele recinto.
As “Tradições dos Nossos Avós”, que vai na sétima edição, é uma iniciativa com especial destaque para a partilha do conhecimento sobre o ciclo do pão, com o tradicional bolo de carne a fazer, também, parte da “ementa”.
O evento resulta de uma organização conjunta entre a cervanense Maria Amélia Oliveira, o Centro Escolar e o Centro Social e Paroquial de Cervães.
Conta ainda com o apoio da Junta de Freguesia local, do Grupo Folclórico de Cervães, de associações locais e da comunidade. Trata-se de mais uma iniciativa integrada na programação “Na Rota das Colheitas”, do município de Vila Verde.
Texto: Emílio Costa (CO-1179)
