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Comunicar com adolescentes: a arte de ouvir, acolher e confiar

Opinião de Catarina Pessoa, membro cooptado na CPCJ de Vila Verde.

 

Comunicar com adolescentes é, por vezes, um verdadeiro desafio.

A adolescência é um período marcado por profundas mudanças. Para quem os acompanha, é fundamental que compreenda que esta etapa exige mais escuta do que imposição.

A chave para uma comunicação eficaz com adolescentes está na escuta ativa e na empatia. Mais do que falar, é preciso ouvir. Evitar críticas imediatas, perguntas invasivas ou apressar a conversar com conselhos, ajuda a criar um espaço seguro onde estes se sintam respeitados e compreendidos. Reconhecer as emoções do adolescente, validando aquilo que este sente, mesmo quando não se concorda, é essencial para construir um vínculo de confiança.

A linguagem também importa: falar de forma clara, facilita o diálogo. Frases abertas, como “queres contar-me como te sentes em relação a isso?”, convidam à partilha e reflexão. Fuja dos raspanetes, privilegie o uso de exemplos e de atitudes coerentes (são muitas vezes mais eficazes do que longas lições de moral). O objetivo é que o adolescente se sinta capaz para partilhar os seus sucessos, como também as suas dúvidas e fragilidades.

A consistência e a presença também são pilares. Estar disponível, mesmo quando parece que não querem falar, transmite uma mensagem: “estou aqui, para ti”. Trata-se de uma presença que não pressiona nem cobra, mas que acompanha, respeitando o tempo e espaço do outro.

Outro aspeto essencial é o respeito pela autonomia. Durante a adolescência, é natural que os jovens privilegiem a companhia dos amigos ou valorizem momentos de introspeção, muitas vezes isolando-se “no seu mundo”. A necessidade de se afastarem temporariamente da família não significa problema, mas sim algo necessário para a construção da sua identidade. É importante que os adultos respeitem este espaço, mantendo uma presença discreta, mas constante. Estar disponível, sem pressionar ou invadir, transmite aos adolescentes a ideia de que os adultos são um porto seguro e não uma torre de controlo que supervisiona cada passo. Ainda que necessitem de muita orientação, os adolescentes desejam ter voz e espaço nas suas decisões. Negociar limites, em vez de impor regras rígidas, fortalece a relação e aumenta o sentido de responsabilidade.

Comunicar com adolescentes exige paciência, abertura e, acima de tudo, confiança. Muitas vezes, os jovens hesitam em partilhar o que sentem ou vivem, não por falta de vontade, mas por receio de serem julgados ou incompreendidos. Quando os adultos se posicionam como aliados e não como juízes, o diálogo não só se mantém aberto, como se torna uma ponte sólida entre gerações. Para construir essa relação de confiança, é fundamental demonstrar interesse pelo seu mundo: conhecer os seus amigos, ouvir as suas músicas, compreender os seus passatempos, explorar as redes sociais que utilizam… Mesmo que estas realidades possam parecer distantes do universo adulto, é fundamental aproximarmo-nos e compreendermos melhor os nossos adolescentes.

Acima de tudo, é importante lembrar que os adultos não precisam de ter todas as respostas, mas, sim, estarem presentes: com atenção, empatia e disponibilidade para acolher, mesmo no silêncio. Muitas vezes, é esta presença discreta, mas segura, que faz toda a diferença. Comunicar com adolescentes é, no fundo, um ato de confiança. Trata-se de lhes dar asas para voar e, ao mesmo tempo, a certeza de que terão sempre um lugar seguro onde pousar.

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