MUNDO

MUNDO -

Dependem da honestidade dos clientes. Lojas sem funcionários multiplicam-se na Coreia

Na Coreia do Sul, um modelo de negócio que poderia parecer arriscado em muitos países está a florescer com sucesso crescente: lojas que funcionam sem qualquer funcionário. Alimentadas pela automatização, pela escassez de mão de obra e pela confiança social, estas lojas dependem exclusivamente da honestidade dos clientes – e o sistema está a resultar.

Numa rua tranquila na periferia de Seul, mesmo depois da meia-noite, é possível encontrar várias lojas abertas, entre elas uma gelataria onde não há seguranças nem empregados. Apenas congeladores cheios de gelados e um quiosque digital para pagamento. O cliente escolhe o produto, paga e sai – sem qualquer supervisão.

Ao lado, funcionam outras lojas de papelaria, rações para animais e até sushi, todas abertas 24 horas por dia, todas sem um único funcionário. Até bares começaram a aderir ao modelo, mesmo em zonas centrais da capital sul-coreana.

Um dos pioneiros é Kim Sung-rae, fundador do ‘Sool 24’ – bar que, como o nome indica, vende álcool durante 24 horas. “Para operar um bar nesta escala com lucro, eu precisaria de 12 a 15 funcionários, mas contrato apenas duas pessoas”, explica Kim à BBC. “Assim, posso dedicar-me a outros negócios.”

Kim administrava um bar convencional, mas os lucros ficaram abaixo das expectativas. Com o modelo automatizado, os resultados mudaram drasticamente. “O principal motivo que me levou a não ter funcionários foi o aumento do salário mínimo”, afirma. “Existem duas formas de enfrentar esta situação: a robótica ou a automatização – e podemos simplesmente não contratar funcionários.”

SALÁRIOS EM ALTA

A evolução deste modelo está intimamente ligada à crise demográfica da Coreia do Sul. O país registou, em 2023, a taxa de fertilidade mais baixa do mundo: 0,72 filhos por mulher – número que subiu ligeiramente para 0,75 no ano seguinte, mas continua muito abaixo dos 2,1 necessários para manter a população estável.

Com menos jovens a entrar no mercado de trabalho e salários a subir – o mínimo ronda atualmente os sete dólares por hora –, os comerciantes enfrentam dificuldades em contratar pessoal.

A pandemia de covid-19 também funcionou como catalisador da mudança: as restrições sanitárias e a necessidade de reduzir custos impulsionaram a automatização do comércio.

Muitos jovens evitam os chamados “empregos 3D” – sujos, perigosos, difíceis ou humilhantes – como funções manuais no retalho.

ovilaverdense@gmail.com

Com Executive Digest

 

Partilhe este artigo no Facebook
Twitter
OUTRAS NOTÍCIAS

PUBLICIDADE