OPINIÃO

OPINIÃO -

É importante apostar na literacia financeira

Texto: Luís Sousa

 Recentemente ouvimos falar da intenção do Ministério da Educação incluir nos programas de ensino, desde o pré-escolar ao ensino secundário, temas relacionados com educação financeira. As escolas devem preparar os alunos para a vida, sendo de suma importância que os programas ministrados ao nível dos vários ciclos de ensino se reflitam, também, em aprendizagens com aplicabilidade prática para o dia a dia dos alunos e futuros cidadãos adultos.

Saúdo que no próximo ano letivo seja dado início a um projeto piloto em sete escolas secundárias do país onde algumas turmas terão um primeiro contacto com matérias que empoderarão os jovens alunos em assuntos relacionados com a literacia financeira. Esta iniciativa visa capacitar os estudantes para um melhor conhecimento acerca das finanças pessoais habilitando-os a tomar, no futuro, decisões mais instruídas e informadas no que respeita às suas opções financeiras.

O Plano Nacional de Formação Financeira elenca os principais referenciais e objetivos que devem nortear a aplicação da educação financeira no contexto escolar, começando no ensino pré-escolar e dando seguimento, com sucessivos ganhos de complexidade, nos restantes níveis de ensino.

Conceitos e temas como planeamento e gestão do orçamento; serviços e produtos financeiros básicos como meios de pagamento, contas bancárias, empréstimos; compreensão mais profunda de como funciona o sistema financeiro; a importância da poupança, nomeadamente através da compreensão de formas de aplicação e de remuneração da poupança ou outros temas como créditos, direitos e deveres e ética aplicados aos contextos financeiros são também temas a abordar ao longo do percurso escolar que, sem dúvida, enriquecerão o currículo dos alunos ao longo do seu percurso de aprendizagem.

Tenho dúvidas se em Portugal temos bons hábitos de poupança. Em grande parte, talvez, por falta de capital de muitas famílias, sabendo-se que temos os segundos salários mais baixos da Europa Ocidental e, no contexto da OCDE, temos o 4º pior desempenho em termos de crescimento do salário médio real. Estes fatores pesam, sem dúvida, na hora de pensar em poupar. Porém, sou também da opinião que os hábitos de poupança devem, mesmo em contextos financeiros menos favoráveis, fazer parte do quotidiano das famílias. Em certos casos diria que se trata apenas de mudarmos alguns hábitos ou interesses.

Quantos de nós esperamos ser bafejados pela sorte num jogo de fortuna ou azar em vez de encetarmos uma estratégia de poupança a longo prazo com maior e mais seguro potencial de rendimento? A este respeito, sabemos que 30% dos portugueses gastam dinheiro em raspadinhas e, destes, alguns até o fazem de forma descontrolada.

O hábito das raspadinhas está muito enraizado em Portugal, jogo com um forte potencial de adição devido à gratificação instantânea que o caracteriza. É o 2º jogo mais popular em Portugal a seguir ao Euromilhões, sendo a maioria dos jogadores pessoas entre os 35 e os 54 anos, com habilitações e rendimentos relativamente baixos.

O gasto médio por jogador de raspadinha é de 450€/ano. De vez em quando, alguém terá sorte e ganhará o prémio da sua vida numa dessas raspadinhas, mas a maioria, provavelmente, nunca ganhará, tendo mais despesas do que prémios. Não seria mais frutífero se estas famílias poupassem ou investissem esse dinheiro numa aplicação financeira adequada ao seu perfil? Responder a esta pergunta e tomar a melhor decisão implica, no entanto, conhecimento e alguma literacia financeira. Isso ajudaria a escolher as melhores opções no que respeita à gestão das nossas finanças pessoais.

Nesta matéria, há que enaltecer o papel brilhante do jornalista Pedro Andersson que, no blogue do Contas-Poupança, nos seus livros ou no seu podcast semanal, faz um verdadeiro serviço público ajudando as pessoas a terem mais conhecimento em matérias relacionadas com finanças pessoais. E é por aqui que a escola pública também deve exercer o seu papel na preparação dos nossos jovens para o dia de amanhã. Por isso, saúdo a iniciativa do Ministério da Educação de introduzir o tema da literacia financeira nos programas escolares!

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