É uma emergência nacional criar estruturas que assegurem um acompanhamento técnico mais extenso aos jovens agricultores e aos novos projectos de exploração agrícola, sob pena de se continuar a desperdiçar muitos milhões e fundos comunitários. O alerta foi lançado no seguimento da conferência online sobre “Agricultura e o Mundo Rural”, que o PSD Vila Verde promoveu na noite de sexta-feira.
Na condução da iniciativa, a autarca vilaverdense Júlia Fernandes apontou a Rota e a Festa das Colheitas como exemplos mais reconhecidos da atenção com que Vila Verde encara a actividade agrícola como sector estratégico para o desenvolvimento rural, mas deixou o desafio para novas soluções que travem o contínuo abandono do sector por parte de jovens e população activa.
O ex-ministro da agricultura Arlindo Cunha e os presidente da ATAHCA, Mota Alves, e da CAVIVER, José Manuel Pereira, foram unânimes quanto à urgência em assegurar apoio e acompanhamento, ao nível técnico e financeiro, que permitam aos jovens agricultores e novos investidores capacidade para superarem dificuldades e obstáculos por força das volatilidades que caracterizam tanto o processo produtivo como os mercados.
«Os jovens são completamente desamparados. Aprova-se projectos e depois ninguém quer saber. São aprovados projectos para a produção de leite, quando nem há quota», denunciou José Manuel Pereira.
Na realidade, no que toca ao envelhecimento da população agrícola, Portugal é um dos piores da Europa. Júlia Fernandes frisou ainda os dados estatísticos que revelam que a população agrícola é cada vez menor e mais idosa: do final dos anos 1980 para cá, o total de trabalhadores na agricultura em Portugal reduziu cerca de 1,5 milhões para cerca de 600 mil.
Os jovens com menos de 24 anos representavam, em 1989, quase 20% dos trabalhadores agrícolas, mas em 2016 já eram menos de 5%. Dois terços têm 55 anos ou mais.
«Isto não pode continuar assim. Estamos há anos a dar prioridade aos jovens e aos novos investidores. Os ministros gostam muito de anunciar que instalaram uma imensidão de novas explorações e hectares, mas depois abandona-se e esquece-se a taxa elevadíssima de mortalidade dos projectos. Não se pode depois aceitar isto», protestou Arlindo Cunha.
O professor universitário sublinhou que os fundos europeus da Política Agrícola Comum (PAC) financiam apoio técnico desde 2014, pelo que depende só de Portugal «fazer as coisas certas».
Para o ex-ministro e actual coordenador da agricultura no Conselho Estratégico Nacional do PSD, outro problema está na destruição progressiva dos serviços do Ministério da Agricultura, perdendo a sua rede de abrangência de todo o território.
«O Estado tem engordado muito, mas emagreceu no lado errado. Com este Estado cada vez mais centralista, os cortes prejudicaram o lado mais fraco: o interior, o mundo rural, os territórios de baixa densidade», lamentou.
No âmbito da nova PAC e do quadro financeiro que sustenta o Portugal 2030, Arlindo Cunha mostrou-se esperançado num maior «equilíbrio nos pagamentos directos aos agricultores, atenuando as diferenças entre grandes e pequenas explorações», mas criticou que esse reforço venha a ser feito à custa das verbas para o desenvolvimento rural.
Essa opção implicará a redução dos apoios para investimentos, com custos agravados para regiões com uma agricultura ainda muito atrasada – como é o caso de Portugal no contexto da UE, e sobretudo nas zonas de minifúndio como o Vila Verde e o Minho.
A sessão online marcou o arranque do ciclo de conferências “Vila Verde 2030” promovidas pelo PSD de Vila Verde, que tem agendada nova iniciativa para o próximo dia 18 de Março, às 21h30, desta vez sobre a “Saúde”, com participação dos médicos Ricardo Mexia, Ricardo Baptista Leite e Luís Sousa.