As cerimónias de transladação dos restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional decorrem hoje. A cerimónia inicia-se pelas 09h00, com a Banda da GNR, em frente à Assembleia da República.
Depois de ser tocado o hino nacional, a urna do célebre escritor será coberta com a bandeira nacional. Segue, depois, em cortejo, para o Panteão Nacional.
Na cerimónia estarão o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco e o primeiro-ministro, Luís Montenegro.
O maestro João Paulo Santos e Sara Braga Simões, do Coro do Teatro Nacional de São Carlos vão interpretar o hino, já dentro do panteão.
Afonso Reis Cabral, trineto do autor e presidente da Fundação Eça de Queiroz, encarrega-se do elogio fúnebre. Serão lidos excertos das obras do autor.
São esperados, por fim, discursos de Marcelo Rebelo de Sousa e de Aguiar-Branco. A cerimónia contará com momentos musicais.
GRUPO DE BISNETOS É CONTRA A TRANSLAÇÃO
Eça de Queiroz faleceu em agosto de 1900, deixando um legado de obras que marcam a literatura portuguesa.
Esteve sepultado em Lisboa, no Cemitério do Alto de São João. Em 1989, os restos mortais foram transportados para um jazigo de família, no cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião, Porto.
Há quatro anos, o PS promoveu a ideia de o transladar para o Panteão e a resolução foi aprovado por unanimidade a 15 de janeiro de 2021.
Um grupo de bisnetos do autor, desde o primeiro o momento, mostraram-se contra a ideia e o caso foi para a Justiça. No entanto, em 2023, o Supremo Tribunal Administrativo deu razão à maioria dos descendentes que concordam com a presença de Eça de Queiroz no Panteão.
António Eça de Queiroz, ao ser questionado pela Renascença, diz: «Acho que ele diria: ‘Não vou!’». Acrescenta, ainda, que esta trasladação será levar «para Lisboa um troféu político».
Ainda em declarações à Renascença, crítica a família. «Como é que é possível não perceberem que o Eça era exatamente contra este tipo de coisas? Parece que não o leram! Não leram o que diz dos políticos? Ou o que disse do ‘panteonismo’ francês?», atira.
Afonso Reis Cabral, apesar de dizer que percebe esta posição, defende que o trisavô esteja no Panteão.
«Nunca desvalorizaria o sentimento de alguém que, sendo de Santa Cruz do Douro, possa considerar que gostaria muito de que os restos mortais continuassem cá. Mas, na verdade, não há nada na vida e obra de Eça de Queiroz que nos levasse a achar que seria impreterível que os restos mortais se mantivessem no jazigo que, neste momento, é o jazigo da Fundação Eça de Queiroz», refere, também à Renascença.
António Queiroz, no entanto, diz que «o Eça de Queiroz não precisa da Fundação. A Fundação é que precisa do Eça». Com isso, agora lamenta que o bisavô vá ser de lá retirado. Até porque «é um ativo da freguesia», vinca.
Afonso Reis Cabral defende que a freguesia continuará a ter o legado de Eça de Queiroz. «É na Casa-Museu que está tudo o que era de Eça de Queiroz. Desde a cabaia de mandarim, à secretária ou às primeiras edições», descreve.
«Nós temos uma atividade cultural, do ponto de vista regional e nacional, intensíssima. Eça de Queiroz está presente de uma maneira fortíssima em Baião, Santa Cruz do Douro, e continuará a estar pela Fundação Eça de Queiroz, em Tormes, a casa-museu. Nós, como instituição, não vamos esmorecer a atividade cultural que desenvolvemos, muito pelo contrário», finaliza.
Eça de Queiroz segue, assim, para o Panteão, embora a família não esteja alinhada na decisão.
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