OPINIÃO

OPINIÃO -

Estamos a matar o futebol?

Hoje em dia há cada vez mais amantes de outros desportos o que não é necessariamente mau, mas algumas das razões que poderão explicar o porquê do futebol estar a perder terreno em relação a outras modalidades merecem uma reflexão da sociedade em geral, em particular dos dirigentes desportivos e de todos aqueles que fazem vida no futebol.

As televisões não têm ajudado. Há muito que os conteúdos televisivos sobre futebol foram perdendo qualidade, distanciando-se pouco do nível que, às vezes, encontramos à porta da tabacaria. Há exceções e o Canal 11 tem sido uma lufada de ar fresco nesta matéria. Não tenho nada contra a forma como se discute e analisa o futebol ao sabor de um fino na esplanada do café. Sei que o futebol e o desporto em geral se prestam a vivências emotivas e a alguma irracionalidade que fazem parte do jogo e acrescentam, até, alguma pimenta a tudo isto. Não escondo que, nesta matéria, também faço, porventura, o uso dos meus “óculos verdes”, pela ligação que tenho ao Sporting, clube do qual sou adepto. Que seria do futebol sem esta genuína emotividade? Porém, nas televisões exige-se mais. 

Os presidentes só são bons se mandarem umas bocas antes ou depois do derby, pois se forem demasiado polidos já se diz que não têm calo para o futebol. Os treinadores e equipas técnicas também não ajudam à festa. Basta atentarmos na época passada às confusões no terreno de jogo com alguns treinadores a esquecerem os esquemas táticos e a partirem para o “um para um” com o treinador adversário, transmitindo uma péssima imagem e exemplo. Muitos tentam justificar o fracasso com os eventuais erros do árbitro e raramente assumem que preparam mal o jogo ou fracassaram nas substituições. 

E tudo isto passa para o adepto. Já quase não falamos do jogo em si, mas da justiça ou injustiça do resultado, centralizando a discussão na atuação da equipa de arbitragem. Não deve haver profissão tão escrutinada como a dos árbitros. Devo dizer que até acho bem que o trabalho do árbitro seja analisado,, tal como é feito a todos os intervenientes num jogo de futebol. Só acho exagerada a forma como esse assunto centraliza tudo o que se fala do jogo durante a semana seguinte. É um exagero que contamina o futebol, tende a descredibilizá-lo e faz com que paire a ideia que os erros foram intencionais. Parece-me que no futebol (português), desde o adepto ao dirigente e treinador, o árbitro, até prova em contrário, é considerado como corrompível, e não deveria ser assim. 

A discussão em torno do futebol não tem sido saudável, a desconfiança em torno da verdade desportiva domina os programas televisivos, o processo do apito dourado e outros que lhe seguiram não contribuíram para credibilizar este desporto e, paulatinamente, vamos caindo na tentação de enveredar pelo discurso populista de que o futebol é cada vez mais um negócio e menos um desporto. Estaremos todos a contribuir para matar o futebol? 

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