A Comissão Promotora de Homenagem aos Democratas de Braga inaugurou na passada quinta-feira, na Praça – Mercado Municipal, a exposição ‘Dias de Abril, de fotografia de José Delgado Fernandes, dedicada ao 25 de Abril de 1974.
A abertura desta mostra acontecer no Dia Internacional da Democracia, uma iniciativa das Nações Unidas, podia ter sido uma coincidência. Mas não foi, como se depreende das palavras de Paulo Sousa, um dos membros da comissão.
A exposição deste repórter de imagem, falecido em 2017, integra um conjunto alargado de iniciativas, que visam, como sublinhou Sousa, a proteger [a Democracia] e a defender o que muito custou a conquistar”.
Recordando que o lema destas comemorações é ‘48 anos a não esquecer. 50 para celebrar’ a mostra vai, diz o antigo jornalista, de encontro “a um objectivo claro e concreto; não esquecer a história dos 48 anos de ditadura e celebrar o meio século de conquistas em que muitos dos presentes participaram activamente”.
IRMÃOS E FILHOS DA DEMOCRACIA
Referindo que o trabalho de organização das comemorações está a ser organizado numa estreita colaboração intergeracional em que todos cabem – “os que foram protagonistas antes, na resistência, os que foram essenciais para o sucesso do 25 de Abril de 1974 e os que cuidaram em criar o edifício do Estado de Direito”- , o responsável destaca, em particular, “os irmãos mais novos do 25 de Abril e os filhos da Democracia”.
A estas duas gerações, que não tendo participado, na ‘Aurora da Liberdade’, Paulo Sousa deixa um alerta. É a elas que cabe “hoje a responsabilidade de assegurar que em Portugal, não há oportunidade, nem no presente nem no futuro, para os que defendem o enfraquecimento da Democracia e a instituição de um regime autocrático”.
A exposição é também ela, não só uma “singela” homenagem a um homem e um profissional singular que sempre refutou a ribalta”, mas igualmente a alguém que deu um “enorme contributo para a história da Democracia portuguesa e particularmente de Braga”.
E hoje a Democracia precisa do empenho de todos. Por isso, Paulo Sousa lembrou que esta quinta-feira, António Guterres, Secretário-Geral da ONU, assinalou o Dia Internacional da Democracia avisando para “o declínio da liberdade de imprensa, à relevância da diminuição do espaço cívico e à desconfiança e desinformação que continuam a crescer, enquanto se assiste à polarização que mina as instituições democráticas”.
O também mentor do movimento Candidatura contra a Indiferença, recordou também o discurso da União proferido esta quarta-feira, pela presidente da Comissão Europeia, Ursula Van der Leyen, que destacou “a importância de reforçar o estado de Direito, a democracia nos diferentes estados europeus, propondo avançar para um Pacto de defesa da Democracia, lembrando que esta não passou de moda, mas é necessária actualizá-la e defendê-la”.
EXPOSIÇÃO
José Delgado Fernandes retratou, como ninguém, as ruas de Abril onde o povo erguia a sua alegria, no dia seguinte à Revolução dos Cravos. A sua sensibilidade e capacidade para reter os momentos cruciais, num período de exaltação e hino à Liberdade, fizeram dele um retratista de emoções que a história conserva e a memória não esquece.
A primeira parte do seu trabalho, composta por 25 fotografias (num total de 50), agora reposta, percorre a história de cidadãs e cidadãos anónimos unidos pela mesma vontade de marcar a diferença.
O fotojornalista deixa um legado que só faz sentido se cada uma e cada um, reconhecendo-se nas 25 fotografias, contribuir com o seu depoimento para memória futura. Essa tarefa ajudará a compreender melhor os méritos do seu trabalho que fazem parte da história da Democracia em Braga.
A segunda parte do espólio do malogrado fotojornalista, será exposta em 2023.
A exposição ‘Dias de Abril’ percorreu inúmeras instituições do Distrito de Braga, passando por Universidades, Liceus, escolas, bibliotecas, Museus e outros.
JOSÉ DELGADO FERNANDES
Nasceu em 1954 em Coimbra, mas foi em Braga, desde criança, que iniciou os seus estudos. A sua paixão pela fotografia começou cedo, tornando-se repórter fotográfico na imprensa nacional e regional. Colaborou em diversas publicações universitárias. Participou em cerca de meia centena de exposições individuais e colectivas na área da fotografia e escultura desde 1973, com destaque para a Colectiva &; Arte no Claustro; Casa do Crivos; Encontrões da Imagem; – Braga; Bienal Internacional de Arte de Cerveira (1997 e 1999); Museu do Carro Eléctrico (1998); Biblioteca Professor Machado Vilela em Vila Verde, Biblioteca Municipal de Ponte de Lima; Instituto de Estudos da Criança; Parque de Exposições de Braga, entre muitas outras.
Faleceu em 2017, de doença prolongada.