Por Salvador de Sousa
O Patriarca de Madrid, D. Leopoldo Eijó, em maio de 1948, festejou as suas Bodas de Prata do seu complicado pontificado, lidando com o conflito interno da guerra civil em Espanha, de 1936 a 1939, e com a 2ª guerra mundial, de 1939 a 1945. Atendendo a tudo isso, prescindiu de uma homenagem à sua pessoa, mostrando vontade que se fizesse algo, continuando a sua obra a favor dos humildes e necessitados, dos Seminários e uma especial “manifestação de carinho e de amor à Mãe de Deus,” realizando-se, no seu Patriarcado, um Congresso Mariano presidido pela Imagem da Cova da Iria, mostrando, como referiu alguém, que “o Céu não abandonara a Espanha” e que a Sua presença representa ser “a mais eficaz das mediações para assegurar a paz do mundo.”
No dia 22 de maio de 1948, pelas 10 horas, partiu do trono da Cova da Iria em direção à capital espanhola e a outras localidades, o mais importante símbolo mariano, deixando milhares de peregrinos com as lágrimas nos olhos. Esteve presente o delegado do prelado de Madrid, Cónego Urtera, acompanhado de pessoas distintas, entre elas a mãe do Ministro do Trabalho de Espanha que ofereceu a viatura que transportou a Imagem (centenária).
Por onde passou Nossa Senhora o povo saiu à rua, revelando-se com toda a espécie de ternura, fervilhando no seu coração o amor e a entrega à Virgem de Fátima. Milhares de devotos quiseram louvar e bendizer aquela Imagem enigmática que atrai multidões. Após passar por tantas localidades, chegou a Navalcarnero, a 30 Km de Madrid, onde a esperavam cerca de 30.000 devotos juntamente com o Cardeal Patriarca, D. Leopoldo, Bispos auxiliares, Embaixador de Portugal e outras autoridades locais, sendo a Imagem colocada num andor, ricamente ornamentado, seguindo, em cortejo, para a Igreja Paroquial, incorporando-se, no largo de Segóvia, o Governador Civil, general Bartolomeu, e a filha do Chefe de Estado, Dona Carmen Franco Polo, soltando algumas pombas, como símbolo de paz. Ao som do repique dos sinos, de cânticos marianos e de aclamações de júbilo, o andor entrou no Templo, seguindo-se a vigília de louvor e de agradecimento pela presença de um significativo e extraordinário Ícone.
No dia 23 de maio, junto à Ponte de Segóvia, meio milhão de fiéis esperavam a Senhora de Fátima com palmas, cânticos, com os olhos a lacrimejar de alegria e a emoção de tão veneranda visita, não faltando os enfeites das ruas, das varandas ornamentadas com colchas de variadas cores.
O Generalíssimo Franco, Chefe do Estado Espanhol, ofereceu o Palácio Real de Bourbons a Nossa Senhora de Fátima, erguendo-se um trono onde a Virgem foi recebendo o povo e as homenagens oficiosas de uma “Nação irmã.”Seguidamente, o Chefe da Nação recebeu o andor na Igreja do Palácio Presidencial de El Pardo, esperando à porta do templo, juntamente com a sua esposa e filha, acompanhando a Imagem até ao altar-mor, assistindo à recitação do terço. Além de pessoas do povo, assistiram também ao ato o pessoal das Casas Militares e civil, do Património Nacional e autoridades de El Pardo.
O Bispo Auxiliar, D. Morcillo, ainda «levou a Imagem ao oratório privado do Palácio onde o Generalíssimo Franco se ajoelhou a rezar com a sua esposa e filha. No dia 30 de maio, o Chefe de Estado deslocou-se, com o seu Estado-maior, a Madrid ao Palácio Real, para, oficialmente, homenagear Nossa Senhora.»
Cenas comoventes e extraordinárias
Esta jornada a Madrid trouxe cenas emocionantes e transcendentais que nos são relatadas nesta obra que estou a ler e a partilhar convosco. Houve centenas de conversões, pessoas que se entregaram a Deus através do olhar maternal, afetuoso da Imagem da Mãe de Deus que iluminou as mentes de tanta gente não crente, não faltando outras graças que o Divino Mestre concedeu através de Maria.
No dia 29 de maio, na Praça de Armaria, milhares de doentes, distribuídos por mil leitos e por doze mil cadeiras, rodeavam o altar que foi feito em honra de Nossa Senhora de Fátima, ornamentado com as mais belas flores que cercavam a Imagem ali colocada. Por todo o lado se viam carros a transportar enfermos, pessoal da Cruz Vermelha e de outros serviços sociais, várias centenas de médicos, de enfermeiras e de pessoal auxiliar. Tantos outros doentes seguiram as cerimónias através da Rádio Nacional de Espanha…
Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História…