Quatro feirantes portugueses foram detidos em Caparroso, na comunidade autónoma de Navarra, Espanha, por terem alegadamente escravizado um homem com problemas económicos e de saúde, durante 17 anos. Os suspeitos terão beneficiado de mais de 100 mil euros dos apoios estatais concedidos à vítima.
“São de origem e nacionalidade portuguesa, embora tenham tido a sua residência neste município de Navarra e três deles já tenham nacionalidade espanhola”, disseram fontes policiais ao El Periódico de España.
As detenções ocorreram no âmbito da ‘Operación Lucendi’ da Guardia Civil, que desarticulou a rede dedicada ao tráfico de seres humanos para exploração laboral a 20 de Novembro, anunciou o Ministério do Interior, na sexta-feira.
Em 2009, a família do homem, que tinha vários problemas médicos e financeiros, denunciou que nada sabia dele desde 2003. Já em Março do ano passado, as autoridades apuraram que a vítima viajava com uma família de feirantes desde 2007. O alerta foi dado pela filha da vítima, que conseguiu entrar em contacto com o pai e ficou a par da sua situação.
O homem, que era natural de Barakaldo, no País Basco, era beneficiário de várias ajudas estatais, entre elas subsídio de desemprego, pensão e declarações fiscais, que recebia numa conta bancária da qual era titular. Contudo, era outra pessoa quem levantava o dinheiro, que nunca passou pelas suas mãos, numa caixa multibanco em Caparroso, noticiou o mesmo meio.
A vítima era forçada a acordar meia hora antes da família para fazer tarefas domésticas, além de ser responsável pelas atracções infantis nas feiras em que operavam, sem receber qualquer tipo de remuneração.
CONDIÇÕES DEGRADANTES
O homem não tinha acesso a comida nem a bebida, e era obrigado a fazer refeições, que consistiam em sandes, separado do clã. Os portugueses davam-lhe tabaco, mas não lhe era permitido pedi-lo ou comprá-lo.
Durante o período das feiras, o homem dormia no reboque do camião, sendo-lhe vedado o acesso à caravana da família, a não ser para se higienizar. A vítima tomava duche na via pública, com a mangueira do camião, e fazia as necessidades na rua.
A imprensa espanhola detalhou ainda que, quando os suspeitos viajavam para Portugal, onde têm uma residência, o homem dormia num colchão colocado na garagem, sem acesso a televisão ou a telemóvel.
Não podia também sair desacompanhado, a não ser para fazer recados ou compras com o dinheiro contado, acção que requeria ainda a apresentação do respectivo recibo.
Mas há mais: a vítima não tinha acesso aos seus próprios documentos, que tinham sido confiscados pela família, não tinha cartão de saúde, nem bilhete de identidade, e não sabia que tinha subsídios em seu nome.
As autoridades destacaram que “a documentação da vítima estava fechada a sete chaves e na posse de um dos detidos”. “O quarto onde pernoitava encontrava-se em condições insalubres e deploráveis, que nada tinham a ver com os restantes quartos onde a família vivia”, complementaram.
A vítima só tinha na sua posse um álbum de fotografias dos filhos, um despertador e uma pasta, estando totalmente dependente do clã. Ainda assim, a Guardia Civil apontou que o homem confessou sentir-se intimidado pela agressividade de alguns membros da família.
“A versão da família de feirantes é que conheceram este homem em 2007 e deram-lhe abrigo e trabalho. Que o ajudaram. Mas se se está realmente a ajudar alguém, não se mantém essa pessoa durante tantos anos em condições de vida tão indignas como as que este homem teve. Assim que foi libertado, foi viver com a sua filha”, indicaram as autoridades.
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Com NM