Centenas de pessoas deslocaram-se hoje, 16 de maio, à Igreja de Santa Maria de Mós, em Vila Verde, para se despediram de António Cerqueira, ex-presidente da Câmara Municipal de Vila Verde.
Dentro e fora da Igreja, a emoção, a dor e as lágrimas eram visíveis nos muitos rostos de quem fez questão de participar no último adeus ao “primeiro presidente”.
Uma despedida emocionada onde se fez ouvir a palavra ‘gratidão’.
Após a missa de corpo presente (a qual terminou com uma salva de palmas), a urna seguiu em direção ao cemitério local, onde foi sepultado.
Nascido naquela freguesia a 30 de setembro de 1938, António Cerqueira, agora com 85 anos, foi, durante 16 anos, professor de ensino básico e desempenhou o cargo de presidente da Câmara Municipal de Vila Verde durante seis mandatos, a partir das primeiras eleições autárquicas pós o 25 de Abril – de 1976 a 1997.
TESTEMUNHOS
António Vilela – Ex-presidente da Câmara Municipal de Vila Verde
«Todos os vilaverdenses devem estar-lhe reconhecidos»
“Era uma pessoa por quem eu nutria uma grande consideração e muita estima, porque foi fazedor para o concelho de Vila Verde. Todos os vilaverdenses devem estar-lhe reconhecidos.
Foi um homem que, por eleições livres, marcou fortemente o concelho.
Temos de nos posicionar no tempo e recordar um concelho com muitas carências, muita pobreza e, naquele momento, era preciso abrir e rasgar horizontes, fazer chegar muitas infraestruturas básicas a todas as zonas do concelho e ele teve essa capacidade de ir fazendo dentro daquilo que eram as possibilidades da altura.
Teve visão e ambição para transformar o concelho e para lhe dar uma nova dimensão.
Vila Verde fica mais pobre porque partiu um cidadão que deu muito de si ao concelho, às pessoas e dedicou-se a muitas causas”.
Mota Alves – Presidente da ATAHCA e ex-vereador
«Ele desbravou caminhos, mais de 400 quilómetros (…)»
«Trabalhei com ele, isto na política desde 1976 até 1997. Fui vereador da Câmara 21 anos, 17 deles com o António Cerqueira.
Marcou o concelho de Vila Verde num momento em que o concelho tinha muitas freguesias isoladas, sem acessibilidades, onde só era possível chegar a pé. Ele desbravou caminhos, mais de 400 quilómetros, levou o abastecimento de água a todas as freguesias, pois só havia na sede do concelho, em Prado e em Pico de Regalados.
Foram construídas escolas para que todos pudessem ter acesso ao ensino básico obrigatório.
Para uma geração da minha idade, ele marcou essa época com muito desenvolvimento.
Gostemos ou não dele em termos políticos, julgo que mesmo a oposição reconhece o trabalho por si realizado.
Lembro-me de ele ter aberto caminhos com uma negociação muito ligeira, sem documentos escritos, mas com a palavra de homens e essa, naturalmente, tinha um valor incalculável nessa altura.
Foi o nosso primeiro presidente de Câmara da era da democracia. Olhou para o concelho como um todo e não para uma parte dele.
Criou recintos desportivos. O edifício da Câmara Municipal deve-se a ele. Foi construído sem nenhum apoio do estado e ele assumiu a responsabilidade de, mesmo sem apoios, de o construir e inaugurou-o sem convidar ninguém do estado. Foi inaugurado pela Câmara e pelas Juntas de Freguesia, membros da Assembleia Municipal e pela população. Acho que Vila Verde nunca deve ter tido tanta gente na inauguração de um edifício público como teve nessa altura».
Fernando Feitor – Vereador no Município de Vila Verde
«Fica conhecido como o pai dos pobres»
«Para mim e, creio, para todos os vilaverdenses foi um homem exemplar, dedicado à causa pública e um bom chefe de família.
Deixou a sua marca em todas as freguesias do concelho, como primeiro presidente da Câmara Municipal de Vila Verde pós o 25 de Abril.
Numa altura em que não havia ajudas da União Europeia ele fez o que outros que lhe sucederam não conseguiram fazer.
Um homem de quem me despeço com tristeza, mas, também, com alegria por ter convivido e aprendido muita coisa com ele.
Deu-me muitos e bons conselhos. Espero que, no futuro, hajam mais pessoas como ele. Fica conhecido como o pai dos pobres».
ovilaverdense@gmail.com
Por Emílio Costa (CO 1179)